Título: "Não vou voltar pela porta do Fundo"
Autor: Filho, Expedito
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/01/2007, Nacional, p. A7

O presidente do PTB, Roberto Jefferson, diz que apóia a eleição de Arlindo Chinaglia (PT-SP), mas considera uma humilhação o pedido de anistia articulado pelo ex-ministro José Dirceu (PT-SP), que teve os direitos políticos cassados pela Câmara por causa do escândalo do mensalão. Garante que não fará o mesmo."Eu saí pela porta da frente e não vou voltar pela porta do fundo", diz Jefferson, nesta entrevista ao Estado, concedida na sexta-feira.

Qual é o seu candidato na disputa pela presidência da Câmara?

O regimento diz que a maior bancada indica o presidente. Se a maior bancada abre mão, cabe à segunda maior bancada fazer o presidente. Portanto, Arlindo Chinaglia, do PT, é o candidato da lei.

Um dos temores é o de que, uma vez eleito, Chinaglia coloque em pauta a proposta de anistia do ex-ministro José Dirceu. O sr. concorda com isso?

O José Dirceu pode tentar. É direito dele. Eu, por exemplo, não quero ser anistiado. Não vou negociar meu retorno com os líderes que me cassaram. Saí pela porta da frente e não vou voltar pela porta do fundo. Se voltar é com a sociedade me apoiando. Não é com um acordo com os caras que me cassaram.

O sr. acha que o governo continua aliciando a base com mecanismos tipo mensalão?

Estou vendo o Waldemar Costa Neto inchar o PL. Será que a turma que vai para o PL vai por amor ao Waldemar, meu irmão? As técnicas de sedução do Waldemar... eu não sei. Desconfio.

Por que muitos estão deixando o PTB?

Muita gente, não. O Fernando Bezerra perdeu a eleição. O Fleury perdeu a eleição. É um grupo que quer de qualquer jeito chegar o poder através de um carguinho, uma nomeação na Infraero, nomeação em outra estatal. Insuflado por trás pelo Armando Monteiro e pelo José Múcio. Sei disso.

O que levou o ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia, a deixar o PTB?

Ele vem anunciando há um ano a saída. É um grande burocrata em favor do governo, mas um mau companheiro em favor do partido. É vaidoso, personalista, um homem de poder, e não de partido.

Mas como ele continua no posto se perdeu o apoio do PTB?

Ele achou que poderia contar com o líder do PTB, José Múcio. Walfrido queria ser ministro do Desenvolvimento no lugar de Furlan e chegou a pleitear o posto ao Lula. O presidente é prático. Cota pessoal é zero de painel na Câmara e no Senado. Ministro da cota pessoal representa zero voto. O presidente não é bobo. Isso ele não quer. Walfrido é muito bonzinho, mas se não tiver votos não fica. Walfrido ficou magoado, choroso, melindrado. Ele não tem apoio do presidente, nem do líder, tem de quem?

Mas o senhor tem uma oposição de peso....

Eu sou meio índio: faca nos dentes com machadinha na mão. Quando acabar a última gota de sangue, eu paro. Eu vou brigar com eles até o fim. Imbatível, eu não sou. Eu só não me rendo.