Título: Homem-bomba mata 3 em Israel
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Fonte: O Estado de São Paulo, 30/01/2007, Internacional, p. A12
Um ataque a bomba em uma padaria deixou ontem quatro mortos e dois feridos em Eilat, um balneário no sul de Israel. Foi o primeiro atentado suicida em Israel em nove meses. Entre os mortos está o autor do ataque, o palestino Mohammed Siksik, de 21 anos. A explosão destruiu o telhado da padaria e levou pânico à área residencial na qual ela está localizada.
Local popular para a prática de mergulho no Mar Vermelho, Eilat tem cerca de 50 mil habitantes e nunca havia sido alvo de atentados. ¿Foi horrível, de repente havia fumaça e pedaços de corpos por todos os lados¿, relatou Benny Mazgini, testemunha do incidente, a uma rádio local.¿Vi um homem com um casaco preto e uma sacola. Como em Eilat faz calor, estranhei e pensei: `Por que este idiota está vestido assim?¿ Segundos depois, ouvi um estrondo¿. Duas das vítimas eram os proprietários da padaria. A terceira seria um homem que emigrou do Peru e cujos pais moram em Miami.
A autoria do ataque foi reivindicada pelos grupos palestinos Jihad Islâmica e Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa - esta, apesar de ser o braço armado do partido laico Fatah, do presidente palestino Mahmud Abbas, age com independência. O objetivo da ação, divulgado em um comunicado, seria ajudar a acabar com o conflito entre as facções palestinas (o Fatah e o grupo islâmico Hamas), lembrando a seus integrantes que ¿as suas armas devem ser direcionadas apenas contra Israel¿.
Apesar de Abbas ter condenado o incidente, o Hamas, que controla o governo palestino, o caracterizou como ¿uma resposta natural¿ à ocupação israelense. ¿A resistência (contra a ocupação) é legítima¿, disse o porta-voz do grupo, Fawzi Barhoum.
Tal posição pode colocar em risco a trégua acordada há dois meses entre Israel e militantes palestinos na Faixa de Gaza, além de adiar o fim do boicote da comunidade internacional à Autoridade Palestina (AP), decretado quando o Hamas, considerado um grupo terrorista pelos EUA e a União Européia, assumiu o poder, em março.
¿Trata-se de um incidente grave, que marca uma escalada (de violência)¿, disse o ministro da Defesa israelense, Amir Peretz, acrescentando que seu país responderá ao ataque.Segundo o primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, o ataque mostrou que era ¿ilusória¿ a calma relativa dos últimos meses, nos quais não houve atentados suicidas em território israelense. ¿Nas últimas semanas, evitamos ataques em muitos lugares, apesar de isso nem sempre ter sido divulgado¿, afirmou.
Os EUA também condenaram o atentado e atribuíram à AP a responsabilidade de evitar incidentes desse tipo. Em comunicado, o porta-voz da Casa Branca, Tony Snow, também ameaçou o governo palestino, dizendo que sua passividade diante do ¿terrorismo¿ poderia ¿afetar as relações da AP com a comunidade internacional¿ e minar as ¿aspirações palestinas a um Estado próprio¿.
O modo como o homem-bomba entrou em território israelense ainda não foi esclarecido. Segundo a Jihad Islâmica, Siksik teria atravessado a fronteira com a Jordânia. Mas o Exército israelense suspeita que ele tenha passado pelo Egito. O tenente-coronel da reserva Yossi Voltinski, outro morador de Eilat, contou ter dado carona para um jovem com a mesma descrição do homem-bomba, que queria ir ao centro da cidade. Ao notar que havia algo de errado com ele, porém, Voltinski o deixou num bairro distante e alertou a polícia.
De acordo com a família do suicida, que comemorou o ¿sucesso¿ da operação, ele estava desempregado, perdera pouco tempo atrás uma filha recém-nascida e teria ficado muito abalado com a morte de seu melhor amigo pelo Exército israelense.