Título: A 80 km de SP, gravuras rupestres de 10 mil anos
Autor: Tonocchi, Mário
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/01/2007, Vida&, p. A15

Uma equipe de pesquisadores encontrou um sítio arqueológico com gravuras rupestres e antigos objetos em uma gruta natural na fazenda São Bento, em Bragança Paulista, a cerca de 80 quilômetros de São Paulo. É a 17º descoberta do tipo no Estado e, acredita-se, a mais antiga.

Análises vão determinar quando as gravuras foram feitas e de que período são as ferramentas e objetos encontrados no local, através de testes de Carbono 14. Paulo Zanettini, coordenador da investigação, acredita que o sítio possa ter até 10 mil anos. No local também foram identificados vestígios de pintura rupestre com uma espécie de tinta vermelha.

NÔMADES

De acordo com Zanettini, assim como nos demais sítios paulistas espalhados em 12 cidades do interior (veja o mapa ao lado), a gruta de Bragança provavelmente foi utilizada por grupos nômades de caçadores e coletores de alimentos. Batizada de Toca da Paineira, a gruta é uma formação de granito que pode ter servido como abrigo e posto de vigilância, já que oferece total visibilidade de uma grande planície.

¿Já fizemos uma sondagem entre os moradores da região e descobrimos que existem pelo menos mais duas formações como a Toca da Paineira nas mesmas condições de visibilidade na região. Precisamos determinar se esses locais contêm objetos arqueológicos também¿, observa Zanettini.

DESENHO PRÉ-HISTÓRICO

A maior gravura, escavada com instrumentos feitos de pedras levadas de outros locais para a gruta, tem 5 metros de altura e 3,5 metros de largura. Contém uma série de pequenos buracos simétricos escavados em um bloco de granito, além de algumas linhas, curvas e círculos que formam desenhos desconexos. O significado dos desenhos é um mistério e pode permanecer assim. ¿Qualquer interpretação que fizermos será uma atitude subjetiva de algo que não conseguimos entender. É como olhar para as nuvens e interpretar o que se está vendo¿, diz Zanettini. Para a pesquisa arqueológica, a falta de interpretação não é um fator determinante. O objetivo é a constatação da utilização do local e a preservação da história.

EMPRESA ARQUEOLÓGICA

Os restos arqueológicos na Toca da Paineira foram descobertos durante estudos feitos pela empresa de arqueologia de Zanettini, iniciados em junho do ano passado para a exploração de mineração de granito preto, minério muito utilizado na construção de túmulos. A legislação ambiental determina que todas as obras com efetiva interferência no ambiente sejam avaliadas por empresas de arqueologia. A mineração não vai afetar a gruta, já que a área destinada para a extração mineral fica a cerca de 1 quilômetro do sítio arqueológico.

Deve demorar pelo menos um ano até que todo o material seja retirado, catalogado, estudado, destinado para museus ou preservado no mesmo local.

Há alguns anos duas Igrejas evangélicas de Bragança Paulista utilizavam a Toca da Paineira para realizar cultos. A prática foi proibida pelo proprietário da fazenda, o empresário Marcos da Silva Pinto, de 51 anos. ¿O local começou a ser depredado¿, afirma Pinto, que também utilizava o local nos finais de semana para descansar apreciando a vista.

¿Sempre vimos esses desenhos mas nunca imaginamos que tinha algum valor histórico¿, disse o empresário, que pretende criar um espaço de turismo histórico. Marcos da Silva Pinto também quer criar um espaço de estudos para crianças no novo sítio arqueológico.

CANOAS INDÍGENAS

Os pesquisadores do sítio de Bragança Paulista buscam financiamentos para ampliar as pesquisas na região. Além de procurar mais vestígios de atividade pré-histórica na área, as investigações devem levar em conta a descoberta de uma canoa feita de um só tronco de árvore escavado, um objeto conhecido como monóxila.

O pesquisador do Centro de Estudos de Arqueologia Náutica e Subaquática do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Gilson Rambelli participou dos estudos iniciais, que pararam por falta de verba.

Segundo Rambelli, o objeto foi embalado em uma tela de náilon e levado para um local do rio com pouca correnteza, seguindo critérios internacionais de conservação.

É a segunda canoa desse tipo encontrada no rio. A primeira, descoberta em 1998, está exposta no Museu de Bragança Paulista. Foi confeccionada, segundo testes do Carbono 14, há 250 anos e utilizada por indígenas.