Título: França, Irlanda, Grécia e Polônia põem em risco retomada de Doha
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/01/2007, Economia, p. B1

A reunião do Fórum Econômico de Davos nem bem terminou e uma nova crise eclodiu ontem na União Européia (UE). A França, apoiada pela Irlanda, Grécia e Polônia, acusou o comissário de Comércio da Europa, Peter Mandelson, de ter ido além de seus limites ao oferecer cortes maiores de tarifas de importação para produtos agrícolas nas negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC) e deixou claro que não aceita uma maior liberalização do setor. As poderosas associações de produtores agrícolas da Europa ainda acusaram os Estados Unidos de não terem feito qualquer concessão em Davos e pedem que a Europa se recuse a abrir seus mercados.

Enquanto Paris e os produtores passavam ao ataque em Bruxelas, Mandelson e outros ministros negociavam em Genebra, como se nada estivesse ocorrendo. Após uma reunião com o chanceler Celso Amorim, o europeu garantiu que um consenso estaria surgindo.

Amorim tentava mostrar otimismo ao declarar que o clima político estava mais adequado para as negociações.

Em Davos, no sábado, 27 ministros concluíram que o processo na OMC seria relançado, depois de seis meses de suspensão. Um dos pontos que desencadeou essa retomada foi a atitude da Europa de afirmar que poderia promover um corte de suas tarifas de importação para bens agrícolas próximo ao que queria o Brasil. O Itamaraty e o G-20 (grupo de países emergentes) querem um corte de 54% para garantir maior acesso ao mercado europeu.

Ontem, Mandelson voltou a dar esse recado ao grupo. A UE e o G-20 têm a clara idéia de que está emergindo um consenso sobre como acabaremos com o impasse. Não estamos na linha de chegada no processo, mas estou mais confiante de que isso nos levará a um rompimento do impasse.

Amorim também confirmou que os americanos indicaram que teriam como flexibilizar. A avaliação não é a mesma dos produtores europeus. Segundo a Confederação de Cooperativas Agrícolas da Europa, Washington não fez concessões ainda. Em nota, os produtores acusam a Casa Branca de não ter mostrado flexibilidade em Davos. Segundo a Confederação, sem uma proposta americana, a Europa não pode ir além de um corte de 39% em suas tarifas.

Para o governo de Paris, o comissário europeu foi além de seu mandato ao afirmar que estaria pronto para ir a uma zona próxima às propostas do Brasil. O ministro francês da Agricultura, Dominique Bussereau, afirmou que governos da Europa não sabiam do movimento e que havia autorizado apenas corte de 39%.

Amorim, apesar de não revelar que tipo de negociações estaria ocorrendo entre Brasil, EUA e Europa, admitiu que algo ocorreu em termos de aproximação das posições e que isso teria possibilitado que tanto Washington como Bruxelas tomassem posições mais pró-ativas. O chanceler, porém, foi vago ao comentar a negociação dos cortes de tarifas e de subsídios. ¿Não discutimos números. De vez em quando falamos de números, mas apenas de forma exploratória. São explorações, não tanto negociações¿, tentou justificar, antes de passar mais de cinco horas com Mandelson e com a representante americana de Comércio, Susan Schwab.

FRASES

Peter Mandelson Comissário europeu do Comércio

A UE e o G-20 têm a clara idéia de que está emergindo um consenso sobre como acabaremos com o impasse. Não estamos na linha de chegada no processo, mas estou confiante de que isso nos levará a um rompimento do impasse

Dominique Bussereau Ministro francês de Agricultura

Os governos da Europa não sabiam do movimento e que se havia autorizado corte de 39%