Título: Petroleiras temem mais restrições de Evo
Autor: Pamplona, Nicola
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/01/2007, Economia, p. B6
A troca de comando na estatal boliviana Yacimientos Petrolíferos Fiscales de Bolívia (YPFB) reacendeu no mercado o temor de nova radicalização nas relações entre o governo Evo Morales e as petroleiras estrangeiras que operam no país. Ontem, o Ministério dos Hidrocarbonetos anunciou o nome de Manuel Morales Olivera para substituir Juan Carlos Ortíz na presidência da companhia. Com atuação elogiada por empresas, Ortíz renunciou na sexta-feira, alegando ser vítima de perseguição.
O ministro dos Hidrocarbonetos, Carlos Villegas, deu eco aos temores do mercado ao anunciar à tarde que o governo poderá rever a lei dos hidrocarbonetos, apresentando um novo texto ao Congresso. As declarações, segundo a agência oficial de informações da Bolívia, ABI, foram feitas em encontro com manifestantes das regiões do Chaco e Camiri, que protestavam por um aprofundamento do processo de nacionalização.
Executivos e observadores da política boliviana especulavam sobre uma possível mudança de postura da YPFB em suas relações com as empresas. Manuel Morales tem perfil considerado mais radical que seu antecessor. Ocupava o posto de assessor especial da diretoria da estatal e era bem próximo ao ex-ministro dos Hidrocarbonetos Andrés Soliz Rada, que ficou conhecido por violentos ataques contra a Petrobrás.
O novo presidente da YPFB é filho e discípulo do advogado Manuel Morales Dávila, figura proeminente no partido governista Movimento ao Socialismo (MAS) e um dos mais ferrenhos opositores da privatização do setor nos anos 90. Morales Dávila foi preso em 1996, acusado de desacato ao presidente da República em conseqüência de seus protestos contra a capitalização da YPFB.
No mercado, a avaliação é que a indicação de Manuel Morales reflete uma disputa de poder entre alas mais radicais do governo, que apostam no confronto, e um grupo mais técnico, que conseguiu um acordo para a assinatura de novos contratos com todas as empresas. ¿Há forças ocultas na Bolívia que desestabilizam qualquer um que tenha uma visão mais pragmática¿, reclama um executivo de petroleira com negócios na Bolívia.
Os sinais de mudança de postura começaram a aparecer em meados deste mês quando o Ministério dos Hidrocarbonetos publicou uma resolução revendo pontos do contrato acertados entre as empresas e Ortíz. O principal é retomar a idéia de transferir à YPFB decisões sobre quanto gás será produzido por cada campo e para onde será destinado.
No ano passado, ficou definido que o ritmo de produção seria negociado a partir de estudos sobre as reservas e definição de preços. ¿Eles estão voltando atrás e querem nos obrigar a produzir volumes que nem sabemos se temos a qualquer preço¿, diz uma fonte, para quem a decisão está ligada ao fracasso da concorrência para venda de gás à Argentina, quando La Paz não conseguiu o volume mínimo comprometido com Buenos Aires.