Título: Mantega reage a Serra e diz que ele fica sem discurso se PAC der certo
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/01/2007, Nacional, p. A4

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, rebateu duramente as críticas feitas pelo governador de São Paulo, José Serra (PSDB), publicadas ontem pelo Estado. Em Davos, na Suíça, onde participou do Fórum Econômico Mundial, Mantega disse que a oposição tem medo de ficar sem discurso se o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) der certo. "É apaz de ela ficar sem discurso se o PAC for um programa coerente, consistente e eficaz."

Ele avisou que vai apresentar uma relação de investimentos federais a Serra na reunião entre os dois marcada para sexta-feira. "Vou levar uma lista muito extensa com os valores a serem alocados em projetos em São Paulo, nas áreas de energia, logística, portos e aeroportos, mostrando o quanto o Estado está sendo beneficiado", disse. "Eu tenho atendido tudo o que o Serra tem pedido", acrescentou, citando a permissão para o leilão de folha do Estado de São Paulo e os aportes para o rodoanel e o ferroanel.

Mantega ficou especialmente irritado pelo fato de Serra ter classificado de "vago" o PAC. "Nunca vi um plano tão preciso na alocação de recursos, com detalhamento projeto por projeto, obra por obra, empreendimento por empreendimento." Ele disse que o PAC é muito mais preciso que o Brasil em Ação, do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: "Aí sim, era só um rol de projetos, sem estudo de viabilidade; ele (Serra) está acostumado com este tipo de plano vago."

ESPÍRITO

Serra, na sua opinião, "não entendeu o espírito do PAC, que é o de colocar em primeiro plano o interesse do País, e não interesses políticos específicos". Mantega lembrou que há um programa regionalizado de investimentos: "Não olhamos para a cor dos partidos que controlam estes governos (dos Estados onde estão previstos investimentos do PAC), não politizamos esta questão, e parece que ele está fazendo isto."

Quanto à desoneração de computadores - Serra criticou o fato de que a mesma não exista em saneamento -, o ministro lembrou que a medida levou a produção de PCs a duplicar e disse que o objetivo do governo é criar um parque nacional de fabricantes de computador. Em relação ao saneamento, disse ainda que está aberto a sugestões na área tributária, mas fez uma ressalva: "Serra, em vez de reclamar, deveria agradecer que no Conselho Monetário Nacional nós aumentamos o limite de Estados e municípios para investimentos em saneamento." Segundo Mantega, a medida vai beneficiar principalmente empresas grandes como a Sabesp, e, por ser gasto primário, transfere espaço fiscal da União para os Estados.

"Não cabe aos Estados discutir os investimentos do PAC, porque são recursos do governo federal", acrescentou Mantega. "Eu não vou lá discutir o Orçamento do Estado de São Paulo, se ele vai colocar dinheiro no rodoanel, no buraco do metrô, sei lá onde." Ele observou que Serra sempre foi desenvolvimentista e não faz sentido que seja contra o aumento dos investimentos, usando parte do superávit primário. Rechaçou ainda a idéia de uma Lei de Responsabilidade Fiscal para a União. "O governo federal tem gasto com pessoal abaixo da maioria esmagadora dos Estados e municípios, e faz superávit primário maior; esta idéia é chover no molhado, a União dá exemplo para os Estados", disse.

A diferença entre a previsão de crescimento do Banco Central, de 3%, e a do PAC, de 4,5%, não preocupa Mantega. "O fato de o mercado ou o BC fazerem previsões mais modestas de crescimento é normal, são segmentos que costumam ter posição mais conservadora sobre crescimento", argumentou.

FRASES

Guido Mantega Ministro da Fazenda

"É capaz de ela (a oposição) ficar sem discurso se o PAC for eficaz"

"Eu tenho atendido tudo o que o Serra tem pedido"

"Eu não vou lá discutir o orçamento de São Paulo, se ele vai colocar dinheiro no rodoanel, no buraco do metrô, sei lá onde"