Título: Programa foi essencial para a reeleição, revela estudo
Autor: Marchi, Carlos
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/01/2007, Nacional, p. A9

Na eleição presidencial de 2006 houve forte associação entre a votação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o baixo IDH-M e as aplicações do Bolsa-Família nos municípios. A afirmação está em estudo dos cientistas políticos Jairo Nicolau e Vítor Peixoto, do Iuperj, veiculado no site do Instituto Nacional de Altos Estudos (Inae). O levantamento comprova que o perfil do voto de Lula mudou entre 2002 e 2006 e que o programa foi essencial à sua vitória.

Os autores cruzaram dados das eleições de 2002 e 2006, do IDH-M dos 5.565 municípios brasileiros e das inversões do Bolsa-Família em cada um deles. O resultado atestou que nos municípios mais ricos, a votação de Lula murchou em relação a 2002. Nos municípios mais pobres, aumentou. E essa movimentação de votos foi sempre proporcional à inversão per capita do programa. Cada R$ 100 distribuídos pelo Bolsa-Família corresponderam a um acréscimo de 3% na votação de Lula no município, diz o estudo.

Ao longo do governo Lula, afirmaram os autores, ¿os recursos do programa foram destinados, sobretudo, para as áreas mais frágeis eleitoralmente em 2002¿. Em comentário postado no site do Inae , a cientista política Maria Celina DAraújo, do Cpdoc/FGV, se disse surpresa em ver Lula e o PT virarem ¿forças políticas dos grotões, daquilo que, historicamente, a esquerda havia denominado de voto do atraso.

Segundo o estudo, apesar dos porcentuais quase idênticos em 2002 (61,3%) e 2006 (60,8%), as votações de Lula não tiveram o mesmo perfil eleitoral. Em 2002, o porcentual cresceu à medida que os municípios eram mais populosos; em 2006, deu-se o inverso. Os melhores resultados aconteceram nos municípios entre 10 mil e 20 mil eleitores, nos quais o presidente teve 54,3% dos votos no 1º turno e 64,2% no 2º (em 2002, 42% e 53,5%, respectivamente).

A última vitória de Lula foi também a mais heterogênea em eleições presidenciais do período pós-redemocratização. No 1º turno de 1989, Fernando Collor perdeu em quatro Estados (RJ, RS, SC e DF); no 2º, em outros quatro (RJ, RS, DF e PE); em 1994 e 1998, com apenas um turno, Fernando Henrique Cardoso perdeu em um Estado (DF, em 94, e RS, em 98); no 1º turno de 2002 Lula perdeu em três Estados (AL, CE e RJ); no 2º, em apenas um (AL). Mas em 2006, Lula perdeu em 11 Estados no 1º turno e em 7, no 2º.

A metodologia científica utilizada por Nicolau e Peixoto (a aferição mediante cálculo da variável correlação de Pearson mostra que nos dois turnos de 2002 a associação entre renda dos municípios e a votação em Lula é reduzida (0,3 no 1º turno e 0,23 no 2º), o que indica que sua votação foi distribuída de maneira bem mais homogênea que em 2006.