Título: Lula defende Evo e Chávez e vê AL 'em paz'
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/01/2007, Economia, p. B3
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem os governos do venezuelano Hugo Chávez e do boliviano Evo Morales durante debate sobre a América Latina no auditório principal do Fórum Econômico Mundial, em Davos. ¿A América Latina vive um momento de paz e tranqüilidade¿, disse Lula, ao ser provocado por Rebecca Anderson, jornalista da CNN que moderou a discussão, a comentar se Chávez era um elemento perturbador da região.
Durante a discussão, ficou clara a oposição entre Lula e o novo presidente do México, Felipe Calderón. Calderón evitou um ataque direto a Chávez, mas manifestou sua preocupação com as ¿ditaduras pessoais vitalícias¿ e as nacionalizações que ameaçam voltar à América Latina, em referência indireta ao presidente da Venezuela.
¿Chávez foi eleito três vezes da forma mais democrática possível, com acompanhamento internacional¿, rebateu Lula. No final, para reforçar sua confiança em Chávez, Lula explicou o acordo entre a Petrobrás e a PDVSA, a estatal petroleira venezuelana. O acordo prevê a exploração de petróleo na Venezuela, a montagem de uma refinaria no Brasil e a construção do gasoduto ligando a Venezuela à Argentina.
Quanto ao presidente boliviano, Lula declarou que ¿Morales tem todo o direito de nacionalizar o gás, o gás é dele e é a única coisa que eles têm¿. Lula afirmou também que o Brasil deve pagar o preço justo pelo gás boliviano. Antes, numa reunião com altos executivos de multinacionais, Lula deu a entender que as estreitas relações do Brasil com países como Venezuela e Bolívia podem mitigar os excessos do populismo.
Para Lula, a América Latina está vivendo seu melhor momento, já que os novos governantes eleitos têm políticas voltadas para os mais pobres. Num painel anterior, referindo-se ao Brasil, Lula disse que ¿a consolidação da democracia depende da distribuição de renda, para o povo pobre achar que vale a pena¿. Ele considera que o aprofundamento da democracia e a integração física são os grandes desafios da América Latina.
Calderón, embora concordando com Lula sobre o papel do Estado no desenvolvimento dos países latino-americanos, disse que a região sofre de ¿preconceito contra o mercado¿.
Lula e Calderón também bateram de frente na questão do fracasso das negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). ¿A Alca não aconteceu porque não tinha que acontecer¿, atacou Lula, para quem a principal meta nas negociações comerciais deve ser um acordo da Rodada Doha no âmbito da Organização Mundial de Comércio (OMC).
Calderón replicou que ¿nas negociações da Alca prevaleceram os preconceitos políticos e ideológicos¿. Ele observou que o Nafta, área de livre comércio que une EUA, Canadá e México, foi muito benéfico para seu país. Segundo Calderón, 82% dos novos empregos e 70% dos investimentos no México estão ligados ao Nafta, e os salários dos trabalhadores nos setores afetados pelo acordo são 42% maiores do que os dos demais.
A defesa de Chávez por Lula foi mal vista por alguns participantes do Fórum.
Para Ricardo Hausman, economista venezuelano e diretor do Centro de Desenvolvimento Internacional da Universidade Harvard, o apoio a Chávez foi ¿imoral, porque ele chamou de democrática alguma coisa que não é democrática¿.
Segundo Hausman, não se pode chamar de democracia um país no qual ¿não há equilíbrio de poderes, nem há parlamento e corte suprema de Justiça independentes¿.