Título: Lula pede ao PT lista `factível¿ dos cargos que quer ocupar
Autor: Domingos, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/01/2007, Nacional, p. A5

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ontem à direção do PT que ¿reflita¿ sobre quais cargos quer ocupar no ministério deste segundo mandato e lhe apresente uma lista ¿factível¿ de suas prioridades em 15 dias. Em reunião de uma hora e meia com a comissão política do partido, no Palácio do Planalto, Lula deixou claro que a montagem da equipe ultrapassará em muitos dias o desfecho da disputa para a presidência da Câmara, na quinta-feira, ao dizer que não fará a reforma na equipe antes do carnaval.

O PT pretende retomar dois ministérios que estão com partidos da base aliada do governo: Saúde, comandado pelo PMDB, e Cidades, nas mãos do PP. O desejo foi reiterado ontem, mas o presidente, bem-humorado, desconversou. Na reunião, os petistas também criticaram o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, expuseram a insatisfação com a política de juros adotada pela instituição e se comprometeram a ajudar o governo a divulgar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

¿Nós dissemos ao presidente que a política econômica tem de ser harmoniosa em seu conjunto. Não dá para ter o PAC numa direção e os juros, em outra¿, afirmou a deputada Maria do Rosário (RS). ¿Falamos que a estabilidade nos permite mais ousadia¿, completou o líder do PT na Câmara, Henrique Fontana (RS).

Lula concordou com a necessidade de um ¿plano de comunicação¿ para traduzir o PAC que, no seu diagnóstico, vem sendo mal compreendido. Os petistas disseram a ele que convidarão a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para que exponham o programa na reunião do Diretório Nacional do PT, em 10 de fevereiro, em Salvador. Quanto aos juros, o presidente endossou a reclamação. ¿Também acho que a queda poderia ser maior¿, disse, segundo relato dos dirigentes.

A comissão política do PT marcou reunião para a próxima terça-feira, em Brasília, com o objetivo de definir os cargos pelos quais o partido tem interesse. Existe, ainda, uma disputa entre as próprias correntes internas da sigla. Na prática, o PT não tem esperança real de voltar a comandar a Saúde - já que o ministério está ¿prometido¿ para o PMDB -, mas, ao externar suas pretensões, marca posição.

A ex-prefeita Marta Suplicy é cotada para Cidades, mas o PP do deputado eleito Paulo Maluf esperneia para continuar à frente da pasta e pode ficar. Além de disputar espaço com o PP e o PMDB - que indicou para a Saúde o médico José Gomes Temporão, afilhado do governador do Rio, Sérgio Cabral -, os petistas prometem brigar entre si. Mais: o comentário de que a possível vitória de Arlindo Chinaglia (PT-SP), no confronto com Aldo Rebelo (PC do B-SP) para a presidência da Câmara, pode diminuir o quinhão do PT serviu para pôr mais lenha na fogueira.

¿São coisas diferentes¿, disse o secretário de Organização,Romênio Pereira. ¿Desde o primeiro mandato do presidente Lula nosso partido perdeu espaços razoáveis e compreendemos que foi necessário. Mas agora, com outras forças políticas reivindicando o seu espaço, o PT deve fazer o mesmo.¿

Na avaliação de Romênio, a partilha entre as facções petistas precisa ser feita de forma mais equilibrada. Ele observou, ainda, que o Movimento PT, tendência de ¿centro¿ à qual se alinha Chinaglia, não controla ministérios no governo. ¿Desta vez, aguardamos que a coalizão externa aconteça internamente também. No primeiro mandato, somente o Campo Majoritário do PT controlou o governo, sob a batuta de José Dirceu¿, disse, numa referência ao grupo que detinha a hegemonia do partido.

No discurso oficial, porém, a conversa com Lula girou apenas em torno do apoio ao PAC e do racha na base por causa da disputa entre Aldo e Chinaglia. ¿Dissemos ao presidente que essa disputa não atrapalhará a coalizão do governo¿, afirmou o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP). ¿Expressamos a certeza de que Chinaglia vai vencer e, se ficar alguma ferida, será curada com o tempo.¿