Título: Renan deve se reeleger no Senado
Autor: Samarco, Christiane e Costa, Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/02/2007, Nacional, p. A5

O Senado deve reeleger hoje Renan Calheiros (PMDB-AL) à presidência da Casa, mas a disputa com o líder do PFL, José Agripino (RN), promete ser apertada. Até os governistas que apostam no peemedebista admitem que, mesmo vitorioso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderá ter mais dificuldades para aprovar matérias de seu interesse no Congresso. A legislatura que se inicia é uma das mais equilibradas quanto ao total de aliados do governo e os que estão na oposição, entre os 81 senadores.

Renan acabou perdendo votos para o líder do PFL na reta final da campanha, por conta do carimbo de candidato do governo. Agripino, se eleito, promete agir para assegurar a independência do Senado. Renan alega que o Congresso nunca foi evasivo na defesa de suas prerrogativas. Os adversários, porém, são unânimes quanto à necessidade de reduzir o uso de medidas provisórias e de avançar com as reformas tributária e política.

O apoio ao pefelista cresceu em cima das insatisfações pontuais com o governo e das mágoas eleitorais contra o PT. 'Eu vim aqui para fazer parte de um bloco de oposição e não posso votar no candidato do governo', justificou o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), ao anunciar a dissidência.

A 24 horas da eleição, Renan foi forçado a se reunir ontem de manhã com Agripino e a cúpula do PSDB, que fechara com seu adversário, para acertar um acordo de procedimento. Ficou acertado que o futuro comandante do Senado deverá convocar sessões do Congresso para apreciar os vetos presidenciais a projetos aprovados pelo Legislativo, o que praticamente não ocorreu nos últimos anos. 'Também foi acertado que haverá mais equanimidade na distribuição de relatorias de projetos importantes', informou o líder tucano no Senado, Arthur Virgílio Neto (AM).

'A briga não é com o Renan. A oposição está fazendo uma disputa política com o governo', afirmou o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR).

Reunidos à tarde para tentar tirar uma candidatura de consenso, os cinco peemedebistas do bloco de oposição ao governo acabaram liberando o voto do grupo. A checagem revelou um racha: Jarbas e Garibaldi Alves (RN) estavam com Agripino; Joaquim Roriz (DF) e Geraldo Mesquita (AC) declararam apoio a Renan, enquanto Mão Santa (PI) dizia-se indeciso e Almeida Lima (SE), em negociação.

Em meio à caça aos votos e à checagem final dos apoios de cada um, articuladores das candidaturas de Renan e Agripino acabaram chegando à mesma conclusão: como o voto é secreto, havia senadores que constavam da contabilidade de ambos.

RECORDE

A eleição no Senado está marcada para hoje de manhã, logo depois de empossados os 27 senadores eleitos em outubro. O Senado terá nas suas fileiras 27 ex-governadores, 10 ex-ministros, igual número de ex-prefeitos e 8 parlamentares que ocuparam o cargo na condição de suplentes.

Após a posse do presidente eleito, será escolhida a nova composição da Mesa, mediante acordo que leva em conta a proporcionalidade das bancadas.

PSDB (13 senadores) e PT (11) disputam a primeira vice-presidência, levando-se em conta que quem perder a vaga poderá ter vantagem na distribuição das comissões permanentes. Uma das possibilidades é a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), presidida pelo PMDB nos últimos quatro anos, passar a ser comandada pelos tucanos. A bancada peemedebista (20 senadores) seria recompensada com duas outras comissões. O PFL (17 senadores) quer continuar presidindo a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Os petistas devem reivindicar o comando da Fiscalização e Controle (CFC), à qual cabe tomar a iniciativa de investigar denúncias relacionadas ao governo.

IMPEACHMENT

A direção do Senado tirou ontem da galeria de imagens da Casa o painel com o relato e fotos do impeachment do ex-presidente Fernando Collor (AL), que toma posse hoje como senador e está de saída do PRTB para o PTB.

'O painel foi para manutenção. Logo depois da posse dos senadores voltará ao lugar', garantiu o diretor-geral do Senado, Agaciel Maia, ao lembrar que outros dois painéis também estão em manutenção.