Título: Ex-ministros pedem mudança já
Autor: Sobral, Isabel e Oliveira, Ribamar
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/02/2007, Economia, p. B4

Não houve acordo, ontem, entre o ministro da Previdência Social, Nelson Machado, e os ex-ocupantes do cargo. Dos 10 ex-ministros participantes da reunião, que marcou o início da discussão em torno do sistema previdenciário, alguns não concordam com a proposta do governo de realizar uma nova reforma apenas ¿daqui a 20 ou 30 anos¿. Eles querem que o governo encaminhe, o quanto antes, uma proposta ao Congresso para alterar as atuais regras de aposentadoria e pensão.

Machado disse que o governo Lula, nos próximos quatro anos, vai focar sua ação na melhoria da gestão da Previdência e deixar eventuais alterações para vigorar depois de um ¿amplo prazo de transição¿.

¿A melhoria da gestão é fundamental, mas o problema é estrutural. Não dá para esperar 20 ou 30 anos¿, sintetizou o economista Sérgio Cutolo, que ocupou o cargo de ministro da Previdência no fim do governo Itamar Franco. ¿Não se pode pensar numa reforma da Previdência para o longo prazo porque o problema é agora¿, reforçou o ex-senador Waldeck Ornellas, ministro durante a gestão Fernando Henrique Cardoso.

O ex-ministro José Cechin, o último a ocupar a pasta na gestão FHC, acha que a reforma, se vier, já estará atrasada. ¿Tem de fazer o quanto antes; se fizer agora, já vem tarde.¿ O deputado Reinhold Stephanes, que conduziu a primeira reforma previdenciária na década de 1990, acha que existem problemas de curto prazo que precisam ser atacados o mais rápido possível. ¿O governo deve identificar o que está errado e construir a viabilidade política para as mudanças¿, sugeriu.

Para eles, a urgência da reforma está diretamente relacionada com a possibilidade de um maior crescimento econômico do País. Para Cechin, o déficit da Previdência nos próximos quatro anos não vai explodir porque o governo arranjará dinheiro, em algum lugar, para honrar o pagamento das aposentadorias. ¿A conseqüência, no entanto, é que o Brasil estará condenado a crescimento medíocre por mais tempo, por falta de investimentos, especialmente em infra-estrutura.¿

Machado disse que o governo descarta a alternativa seguida pelo Chile, que adotou um programa de aposentadoria com regime de capitalização. Segundo ele, o modelo deixou 50% da população fora da cobertura. Alguns ex-ministros lembraram que a situação brasileira não é diferente. Os especialistas estimam que de 40% a 50% dos trabalhadores ativos não contribuem para a Previdência.