Título: Chinaglia trocou vaga de 1º vice por apoio do PSDB
Autor: Madueño, Denise e Leal, Luciana Nunes
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/02/2007, Nacional, p. A6

Depois de enfrentar uma difícil disputa com o deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), o petista Arlindo Chinaglia (SP) foi eleito ontem presidente da Câmara para os próximos dois anos. A vitória, em segundo turno, foi apertada. O candidato do PT obteve 261 votos e o comunista, 243. Seis deputados votaram em branco. No primeiro turno, votaram 512 deputados. No segundo, 510.

Os tucanos, que na primeira etapa deram voto a Gustavo Fruet (PSDB-PR), foram decisivos para a vitória de Chinaglia. O apoio foi negociado em troca da vaga de primeiro vice-presidente para o PSDB e abriu uma crise na bancada. Deputados favoráveis ao voto em Aldo condenaram a articulação isolada do grupo pró-Chinaglia. O próprio Fruet declarou apoio a Aldo, mas o líder do partido, Antônio Carlos Pannunzio (SP), tinha liberado a bancada.

Apesar de ver vencer um companheiro de partido, o presidente Lula sofrerá o efeito colateral da disputa: a divisão da base governista. Seus três aliados históricos, PT de um lado e PSB e PC do B de outro, saíram rompidos da corrida na Casa. 'Fiz uma campanha preocupado em não deixar traumas nem ofensas', disse Chinaglia, médico de 57 anos e fundador do PT. 'Creio que as bancadas vão se orientar por convicções partidárias e programáticas e não será alterada a correlação de forças do governo e da oposição.'

O PSB e o PC do B, que se uniram na candidatura de Aldo, sinalizaram que vão tentar vôo próprio na eleição presidencial de 2010 e não necessariamente apoiar o candidato do PT. Logo depois de anunciada a vitória, Chinaglia assumiu a presidência da sessão e hasteou a bandeira branca: 'As eleições acabaram. Vamos conduzir a Casa com respeito a cada deputado e cada deputada.'

Para o líder do PSB, Márcio França (SP), uma boa relação do bloco PSB-PC do B-PDT com os petistas dependerá da capacidade do novo presidente da Câmara de compor com os adversários na disputa. 'Não dá para dizer que as coisas vão passar em branco. Mas a tradição mostra que as coisas vão se amenizando, porque não dá para fazer política com o fígado. Temos um espaço de esquerda na Casa sem o PT', afirmou França.

BLOCOS

Até o início da votação, embora Chinaglia fosse favorito, não se sabia se a decisão seria levada para o segundo turno. Petistas se diziam confiantes, mas o próprio candidato preferia considerar a hipótese da segunda votação. Quando o resultado foi anunciado, a frustração dos petistas era flagrante. Os aliados de Aldo, ao contrário, comemoraram. 'Um, dois, três, é Aldo outra vez', gritavam.

A vitória final de Chinaglia foi garantida pela adesão oficial de um grande número de partidos, por acertos de cargos na Mesa, pela perspectiva de os aliados ocuparem postos no segundo governo Lula e pela promessa de comissões e relatorias importantes, especialmente para os deputados sem muita projeção política e para os novatos.

A formação, na véspera da eleição, de três blocos partidários também influenciou a votação. Para alguns parlamentares, o bloco de PSB, PDT e PC do B, que apoiou Aldo, expôs a fragilidade do candidato, pois somava 153 parlamentares, enquanto o megabloco do PT, do PMDB e mais seis partidos reunia 273.

Os candidatos começaram o dia pedindo votos por telefone e, no caso de Fruet - mesmo já esperando a derrota - e Chinaglia, até na posse. Aldo ligou para os dois para desejar boa sorte.