Título: Sem surpresas, Renan é reeleito e defende independência do Senado
Autor: Samarco, Christiane e Costa, Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/02/2007, Nacional, p. A8

Com uma diferença de 13 votos, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), foi reeleito ontem para mais um biênio - resultado que já era esperado pelos senadores. Renan obteve 51 votos, enquanto o seu adversário, o líder do PFL, Agripino Maia (RN), obteve 28. Houve um voto em branco e um nulo. A diferença de 13 votos superou as expectativas dos peemedebistas, que previam mais deserções em favor do PFL.

Agripino, sim, se surpreendeu, pois contava com pelo menos 30 votos - 17 de seu partido e 13 do PSDB. Do lado do PMDB, Renan admitiu publicamente ter perdido, para o adversário, os votos de três correligionários: Jarbas Vasconcelos (PE), Garibaldi Alves (RN) e Almeida Lima (SE).

Assim que foi proclamado o resultado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva telefonou para Renan e deu os parabéns. Embora de agrado do Planalto, o placar final não pode ser interpretado como uma vitória do governo, mas como fruto dos arranjos internos.

'Qualquer candidato da base que não fosse o Renan perderia esta eleição', resumiu o senador tucano Sérgio Guerra (PE), cabo eleitoral de Agripino, convencido de que a vitória foi pessoal. 'O Renan passou 2006 todo em Brasília, atendendo senadores. Não criou problema com ninguém e é extremamente equilibrado e cordial.'

Ao comentar o telefonema de Lula, Renan limitou-se a dizer que o presidente sempre teve 'muito carinho' com ele. 'A conversa foi rápida e eu apenas agradeci', desconversou o senador, que passou os últimos dias empenhado em destacar sua postura 'independente' em relação ao governo, lembrando que instalara cinco CPIs sem consultar quem quer que fosse.

Em seu discurso aos senadores, Renan voltou a cobrar as reformas tributária e política, com fidelidade partidária. Disse que 'a fadiga da legislação política eleitoral' acaba desgastando o Congresso, que não pode mais pagar esta conta. 'No Brasil, o que morreu não foi a ética. O que apodreceu foi o nosso sistema político.'

Já Agripino afirmou que sua candidatura foi positiva, porque ajudou a acabar com a postura passiva do Congresso em relação ao governo, sobretudo no que se refere ao abuso na edição de medidas provisórias.

MANOBRA

O único tumulto na sessão ficou por conta da iniciativa do PT de articular, na madrugada, a criação de um bloco de apoio ao governo, reunindo sete partidos (PT, PSB, PC do B, PTB, PR, PRTB e PP), com 25 parlamentares. 'Soube deste bloco à meia-noite e um minuto', reclamou o líder tucano, Arthur Virgílio Neto (AM). Na mesma linha, Agripino estranhou a manobra da madrugada, que lhe pareceu um casuísmo na briga por cargos da Mesa Diretora.

Mesmo com o PMDB ao lado do governo, o que totaliza 45 votos favoráveis ao Planalto, na prática o novo Senado caracteriza-se pelo equilíbrio de forças entre aliados e oposição. Afinal, contabilizado o bloco dissidente do PMDB, que hoje reúne seis senadores de oposição ou também chamados de independentes, o cenário não garante total tranqüilidade ao governo nas votações.

O Planalto terá de trabalhar muito para reunir 49 senadores e aprovar medidas polêmicas como a prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), que garante R$ 32 bilhões anuais ao Tesouro.

A reunião convocada para dar posse aos 27 senadores eleitos em outubro e eleger o novo presidente do Senado durou menos de três horas e transcorreu sem incidentes. A única gafe foi a supressão do nome de Marconi Perillo (GO) da lista dos novatos que deveriam prestar o juramento constitucional. Mesmo esquecido, Perillo não perdeu o bom humor.