Título: Washington eleva tom contra Teerã
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Fonte: O Estado de São Paulo, 02/02/2007, Internacional, p. A12

O governo americano retomou ontem sua rotina quase diária de acusar o Irã de fomentar a violência sectária no Iraque, apoiando as milícias xiitas do país. Dessa vez, o ataque foi feito pelo subsecretário de Estado, Nicholas Burns, que afirmou que 'há um aumento das evidências de interferência iraniana no Iraque'.

Burns afirmou que o Pentágono vem investigando há cerca de dois anos o envolvimento de Teerã em ataques contra forças de coalizão no Iraque. 'Prendemos integrantes do serviço secreto iraniano que estariam transferindo tecnologia explosiva sofisticada para grupos xiitas iraquianos', disse o secretário em entrevista a uma rádio. Os EUA já haviam acusado o Irã de estar contrabandeando projéteis capazes de perfurar a blindagem de seus veículos militares para os extremistas xiitas iraquianos.

Entre os detidos citados por Burns estariam os cinco iranianos presos, em 11 de janeiro, na cidade de Irbil (norte do Iraque) pelo Exército americano - ação que intensificou as tensões entre Irã e EUA. Teerã vem afirmando desde então que eles são funcionários do governo com autorização para trabalhar na cidade. Segundo o secretário, entretanto, 'eles são integrantes da Guarda Revolucionária Iraniana engajados na violência sectária, e não diplomatas'.

Burns também reiterou a declaração de outros representantes do governo americano de que os EUA não pretendem invadir o Irã, mas sim resolver as diferenças entre os dois países por meio da diplomacia. 'Nossa intenção não é cruzar a fronteira na direção de Teerã', disse o secretário. 'Mas todas as opções estão sobre a mesa.'

O Iraque também vem alertando o Irã sobre sua influência nas milícias. Ainda ontem, o porta-voz do governo, Ali al-Dabbagh, disse que 'qualquer ataque contra os EUA em nosso território será considerado um ataque contra nós'. As declarações do porta-voz reforçaram o alerta que o primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki, fez há três dias. Ao mesmo tempo em que acusou o Irã de estar por trás de ataques às forças americanas no Iraque, o premiê disse que seu país não deveria servir de campo de batalhas para Irã, EUA e Síria resolverem suas diferenças.

Diante das críticas de Teerã sobre os EUA não terem apresentado provas da participação militar iraniana no Iraque, o embaixador americano em Bagdá, Zalmay Khalilzad, disse que irá se reunir com autoridades do Irã para mostrar as evidências. O embaixador não revelou, entretanto, a data do encontro.

O Ministério do Exterior do Iraque informou que diversos países vizinhos - incluindo Irã e Síria - foram convidados a participara de uma reunião em Bagdá, em março, para discutir a segurança na região.

EXPLOSÕES

Dois homens-bomba mataram ao menos 61 pessoas numa feira em Hilla, cidade xiita a 100 quilômetros ao sul de Bagdá. O atentado ocorreu no dia em que o Ministério do Interior iraquiano divulgou dados sobre a violência no país durante o mês de janeiro: 1.990 civis foram mortos por 'terrorismo' - mais que o triplo do mesmo período em 2006, quando 548 iraquianos não-combatentes morreram. Outras organizações, como a ONU, já divulgaram números bem mais altos em relação à morte de civis no país.

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