Título: Putin sugere que não buscará 3º mandato
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Fonte: O Estado de São Paulo, 02/02/2007, Internacional, p. A14
O presidente russo, Vladimir Putin, prometeu ontem dar aos eleitores russos uma 'escolha democrática' nas eleições presidenciais do próximo ano, mas os exortou a eleger um líder que possa prosseguir com seu legado.
Respondendo a perguntas durante uma entrevista coletiva anual, Putin, de 54 anos, negou os rumores de que orquestrou uma sucessão para quando seu segundo e último mandato terminar, em março de 2008. 'Não haverá um sucessor', disse Putin no Kremlin. 'Haverá candidatos para o cargo de presidente... Eu me reservo o direito de manifestar minhas preferências, mas farei isso somente durante a campanha eleitoral.'
Apesar de seus comentários, muitos analistas disseram ser inimaginável que Putin seja sucedido por alguém que ele não gostaria de ver no Kremlin. 'Com uma aprovação de 80% e as pesquisas de opinião mostrando que os eleitores vão votar a pessoa apoiada por Putin, efetivamente a pessoa que ele nomear será o próximo presidente', disse Christopher Weafer, estrategista-chefe do Alfa Bank.
Parecendo relaxado e confiante, Putin brincou com os repórteres durante as três horas e meia de entrevista. No entanto, criticou duramente os planos dos EUA de instalar um sistema de defesa antimíssil na Polônia e na República Checa, zombando das alegações americanas de que o objetivo é interceptar um possível ataque com mísseis do Irã. Putin advertiu que a Rússia poderia adotar medidas não especificadas de retaliação.
Putin defendeu o direito do Irã de desenvolver tecnologia nuclear, mas pediu a Teerã que colabore com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e 'encerre as suspeitas da comunidade internacional sobre os supostos planos do Irã de fabricar armas nucleares'. Ele disse que a Rússia deve levar adiante a construção da usina de Bushehr, no Irã, e defendeu a cooperação militar de Moscou com o regime islâmico.
Putin elogiou a força econômica da Rússia e usou um notável tom conciliatório em suas declarações sobre as ex-repúblicas soviéticas Ucrânia, Bielo-Rússia e Geórgia, alvos de recentes disputas sobre energia. Putin rejeitou as críticas dos países ocidentais de que está utilizando seus recursos energéticos como arma política. Os aumentos de preços, disse, ocorrem simplesmente pelo desejo da Rússia de obter preços justos para seu gás e petróleo, depois de oferecer durante anos condições favoráveis a seus ex-vizinhos soviéticos. O presidente russo também descreveu como 'interessante' a idéia de criar um grupo ao estilo da Opep para coordenar os maiores produtores mundiais de gás.