Título: Assessor de Lula garante apoio a pedido de anistia para Dirceu
Autor: Macedo, Fausto e Amorim, Silvia
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/02/2007, Nacional, p. A4

A operação de resgate do ex-ministro-chefe da Casa Civil e deputado cassado do PT José Dirceu ganhou ontem reforço importante da cúpula do governo Lula. Marco Aurélio Garcia, assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, pregou publicamente anistia para o ex-ministro.

'Quando o projeto vier é claro que apóio', declarou Marco Aurélio, à saída do encontro promovido pelo Campo Majoritário, principal tendência do partido, em um hotel de luxo de São Roque, a 60 quilômetros de São Paulo.

'Se fui contra a cassação dele, como não posso ser favorável à anistia?', enfatizou o auxiliar direto de Lula.

Cassado a 1.º de dezembro de 2005, sob suspeita de envolvimento no esquema do mensalão, Dirceu perdeu os direitos políticos e ficou inelegível até 2015. O ex-ministro jamais aceitou a acusação. Também nunca escondeu sua ambição de logo voltar à Câmara.

O caminho não é tão simples. O projeto de perdão deve contar com 1,5 milhão de assinaturas para que o Congresso admita colocá-lo em pauta.

Os companheiros de Dirceu estimam que ele terá êxito. Eles avaliam que a manifestação de Marco Aurélio é um primeiro apoio de peso que poderá impulsionar o projeto.

Na manhã de sábado, quando fez críticas à política de juros do Banco Central, Dirceu foi ovacionado por seus pares. A cena fez lembrar o início do primeiro governo Lula, quando o então ministro detinha o título de homem forte da República.

REFLEXÃO

Oficialmente, o indulto a Dirceu não estava na pauta do Campo Majoritário, ala do PT que perdeu força por causa da ligação de alguns de seus integrantes com o valerioduto. O encontro de São Roque deveria tratar prioritariamente de uma reflexão sobre o futuro da agremiação e um manifesto de apoio ao PAC, o programa de Lula para acelerar o crescimento do País. Mas nos bastidores da reunião um tema predominante foi a volta de Dirceu.

Marco Aurélio, que fez uma explanação sobre socialismo na tarde de sábado, conversou com Dirceu, mas garante que a anistia não foi assunto. 'Ele não falou disso, ele disse que não está preocupado em colocar na ordem do dia isso.'

A aprovação ao retorno de Dirceu foi endossada pelo presidente do partido, deputado Ricardo Berzoini (PT-SP). 'Assino o projeto, sou favorável. Como filiado ao PT e militante. Ele merece retomar os seus direitos políticos porque foi punido injustamente, sem provas.'

Berzoini garantiu que o perdão não foi debatido. 'Não conversei com ele, mas conversaria se provocado. Não se trata de uma questão partidária, não deve ser objeto de deliberação, mas do ponto de vista estatutário há possibilidade sim de o partido discutir. Ele tem o direito de pleitear sua anistia.'

A anuência ao projeto de resgate de Dirceu tomou conta da assembléia de petistas. Sua força e influência ficaram demonstradas quando atacou o Banco Central e sua fala foi interrompida pelos aplausos. O ex-ministro atribuiu à última reunião do Copom (que reduziu 0,25 ponto porcentual da taxa Selic) 'uma contundente ameaça ao crescimento do País'.

Indagado se Dirceu tem autoridade para criticar o BC, Berzoini enfatizou: 'Ele tem autoridade de cidadão brasileiro, é filiado ao PT.' E enumerou elogios. 'Ele tem uma participação histórica, uma biografia muito importante. Combateu a ditadura quando muita gente apoiava. É importante respeitar também as pessoas e não estigmatizá-las por conta de processos que ainda estão para ser julgados no Supremo Tribunal Federal.' E sublinhou: 'Assino a anistia porque a cassação foi injusta, incorreta, não se baseou em provas. Uma decisão política de um setor que queria afastá-lo da vida pública.'

O secretário de Comunicação da ex-prefeita Marta Suplicy e vereador José Américo Dias também saiu em defesa do ex-ministro. 'Se aparecer qualquer documento eu assino.'

Em seu blog na Internet, ontem, Dirceu afirmou que não está organizando sua campanha de anistia, mas acrescentou: 'Tenho recebido apoios e vou viajar por todo País, aceitando convites de personalidades, militantes de esquerda, do PT e de partidos que apóiam o governo, em apoio a minha anistia.'