Título: 'Ataque ao Irã seria um desastre'
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Fonte: O Estado de São Paulo, 05/02/2007, Internacional, p. A8

Três ex-comandantes militares dos EUA e grupos de estudos britânicos advertiram ontem que uma ação militar contra o Irã seria um desastre regional e pediram uma nova iniciativa diplomática para evitar um conflito.

Em uma carta divulgada ontem no jornal The Sunday Times, os militares da reserva - o general Robert Gard, do Centro de Controle de Não-Proliferação de Armas Nucleares; o general da Marinha Joseph Hoar, ex-chefe do Comando Central dos EUA; e o vice-almirante Jack Shanahan, ex-diretor do Centro de Informação de Defesa - destacaram que o presidente americano, George W. Bush, deve iniciar conversações ¿sem precondições¿ com o Irã a fim de obter uma solução. Eles advertiram que um ataque ¿teria desastrosas conseqüências para a segurança da região e as forças da coalizão no Iraque¿, além de ¿aumentar ainda mais as tensões regionais e globais¿.

O governo americano e vários aliados ocidentais acreditam que o Irã está usando seu programa nuclear para encobrir a produção de armas atômicas. Mas o Irã assegura que o objetivo de seu programa é produzir energia. Os EUA e Israel intensificaram sua retórica contra Teerã nas últimas semanas, levando às especulações de que estariam preparando uma ação militar contra o Estado islâmico.

A Casa Branca se negou a descartar a possibilidade de um ataque contra o Irã se o regime de Teerã continuar com suas atividades de enriquecimento de urânio e aumentou sua presença militar no Golfo Pérsico. Bush também ordenou ações agressivas contra supostos agentes iranianos no Iraque, após acusar Teerã de treinar e armar rebeldes xiitas que têm atacado os soldados americanos.

Um relatório conjunto de 15 organizações - entre elas o Centro de Política Externa, a Oxfam e o Conselho Muçulmano da Grã-Bretanha - , divulgado ontem, disse que um ataque ao Irã poderá, entre outras coisas, fortalecer as ambições atômicas de Teerã, minar as esperanças de estabilidade no Iraque e prejudicar o crescimento econômico global por meio do aumento do preço do petróleo.

¿As conseqüências de uma ação militar contra o Irã não são apenas inaceitáveis, mas impensáveis¿, disse Stephen Twigg, diretor do Centro de Política Externa.

Segundo o relatório, entre as conseqüências de um ataque ao Irã está o reforço da posição dos linhas-duras dentro do sistema político iraniano e uma redução das chances de reforma. Ele também poderia inspirar ataques terroristas contra países ocidentais.

Ainda ontem, o chefe da Organização de Energia Atômica do Irã, Gholamreza Aghazadeh, disse que Teerã não suspenderá seu programa de enriquecimento de urânio, como exigido pelo Conselho de Segurança da ONU, que em dezembro impôs sanções limitadas contra a República Islâmica.