Título: 'Armamentos de Chávez são ameaça à América Latina'
Autor: Godoy, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/02/2007, Internacional, p. A11

O cientista político argentino Andrés Serbin adverte que os investimentos em armamentos do presidente venezuelano, Hugo Chávez, representam uma ameaça para a América Latina. O Estado conversou com Serbin durante o 3º Encontro Internacional do Grupo de Análise de Prevenção de Conflitos Internacionais, realizado na semana passada na Universidade Candido Mendes, no Rio.

Por que esses investimentos em armas de Chávez preocupam?

Havíamos chegado a uma situação na América Latina onde o processo armamentista havia sido paralisado. Chávez agora está causando um desequilíbrio em função de sua idéia de que tem de enfrentar os EUA. Não creio que comprar 100 mil fuzis AK-47 sirva para enfrentar os marines. Mas, vale lembrar, os únicos que usam AK-47 são as Forças Armadas cubanas e as Forcas Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Chávez anunciou que vai produzir munição para os AK-47. Onde vai parar essa munição? A outra pergunta é sobre os 100 mil FAL - os fuzis americanos das Forças Armadas da Venezuela - que ele vai tirar de circulação e serão trocados pelos AK-47. Onde vão parar esses FAL? Na Favela da Rocinha?

Um dos objetivos seria, então, fornecer munição para as Farc?

Não digo que seja um dos objetivos. Mas, como analista, pergunto: se normalmente uso a mesma munição que o restante da América Latina e os EUA e produzo essa munição, por que agora estou mudando para uma munição que somente serve para as armas que comprei e para Cuba e as Farc?

Chávez representa um risco para a democracia na América Latina?

Creio que sim. A melhor prova é que Chávez, de fato, estava apoiando movimentos que questionam a democracia em outros países. Há dois meses, o presidente Néstor Kirchner pediu a Chávez que retirasse seu embaixador em Buenos Aires porque ele estava financiando grupos contrários ao governo argentino. Kirchner foi discreto e diplomático, não houve escândalo, mas pediu que tirassem o embaixador. Ele foi trocado.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente Kirchner advertiram Chávez recentemente sobre decisões dele, consideradas antidemocráticas. A conversa terá resultado?

Não sei até que ponto Chávez está disposto a escutá-los. Em função de uma visão de mundo de enfrentamento com os EUA, Chávez tem um plano geopolítico que vai além da região. Daí a aliança com Irã, com países árabes, e o jogo que ele faz na Opep, e mesmo seus vínculos com China e Rússia. Tudo parte da estratégia global que ele tem desenhada.

O ENTREVISTADO

Andrés Serbin é doutor em Ciência Política e professor da Universidade Central da Venezuela. Também é presidente da Coordenadoria Regional de Investigações Econômicas e Sociais