Título: Safra boa anima vinícolas gaúchas
Autor: Ogliari, Elder
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/02/2007, Economia, p. B9

Os produtores gaúchos estão próximos de colher a quarta boa safra consecutiva de uva, uma seqüência rara na história do cultivo da fruta. Em muitos vinhedos, as variedades precoces como as brancas chardonnay e riesling já foram retiradas das videiras com ótima qualidade. As tintas, como merlot e cabernet sauvignon, ainda estão em fase de maturação.

No Rio Grande do Sul, a vindima começa na segunda quinzena de janeiro e vai até a metade de março, mobilizando cerca de 15 mil agricultores e mais 15 mil safristas contratados nas regiões produtoras e também chamados dos minifúndios do noroeste do Estado. Neste ano, viticultores e indústria vinícola fizeram um acordo que estabeleceu o preço mínimo de R$ 0,46 pelo quilo da variedade isabel e variações de até 90% a mais pelas demais variedades. Segundo o coordenador da Comissão Interestadual da Uva, Olir Schiavenin, a expectativa é colher 43,2 mil toneladas, um volume 2% superior ao ano passado.

A expectativa de boa qualidade deve-se à combinação de correta condução do vinhedo com fatores climáticos como inverno frio, primavera ensolarada, pouca umidade e calor no amadurecimento da fruta.

Nem todos esses componentes estiveram presentes nas condições adequadas nesta safra. Por isso é que os produtores falam em colheita de boa qualidade e não de excepcional qualidade como a de 2005. No caso das variedades brancas, o calor inesperado de julho provocou uma brotação precoce, que acabou atingida pelas geadas tardias de setembro. O volume caiu e, em compensação, a qualidade das uvas que sobreviveram cresceu.

TERCEIROS

Isso fez com que algumas vinícolas tivessem de recorrer a mais compras de terceiros para produzir o volume projetado de vinho. É o caso da Monte Lemos, de Bento Gonçalves, produtora das marcas Dal Pizzol e Do Lugar. ¿O volume - 250 mil garrafas por ano - não será afetado¿, destaca o enólogo da casa, Dirceu Scottá, que também é presidente da Associação Brasileira de Enologia (ABE).

A Sulvin, produtora da marca Casa de Amaro, passa por situação semelhante. O diretor da empresa, Neimar Godinho, revela que a produtividade de um dos vinhedos da empresa, em Antônio Prado, caiu de 35 mil quilos para 5 mil quilos. ¿O que sobrou é de ótima qualidade, mas terei de comprar uva fora.¿

A produção nos campos ao sul do Estado pode compensar a perda de volume de uvas brancas na serra. Vinícolas como a Miolo, a Lídio Carraro e a Salton já têm seus vinhedos em associações com produtores daquela região.

A pioneira da área é a Almadén, que apostou no clima mais seco que o da serra para implantar 600 hectares de vinhedos em Santana do Livramento nos anos 70. Neste ano, a vinícola, que está sob controle do grupo francês Pernod Ricard desde 2001, comemora uma safra excelente graças ao microclima local. 'Escapamos da geada e estamos a ponto de conseguir colher todas as variedades no ponto de maturação ideal para produzir bons vinhos', diz o gerente da unidade, o engenheiro agrônomo Afrânio Moraes Filho.