Título: Na festa da vitória, a volta dos mensaleiros
Autor: Madueño, Denise
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/02/2007, Nacional, p. A6

O deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) comemorou a eleição para a presidência da Câmara com boa parte dos deputados protagonistas dos escândalos políticos do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De João Paulo Cunha (PT-SP) e José Mentor (PT-SP), investigados no escândalo do mensalão, ao ex-ministro Antônio Palocci, que caiu em desgraça no caso da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, um grupo restrito de petistas atravessou a madrugada de ontem celebrando entre taças de prosecco italiano e doses de uísque e chope. O cenário escolhido foi o Clube das Nações, no setor de clubes de Brasília. Ao som de pagode, executado em alto volume numa pista de dança às margens do Lago Paranoá, o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini, chegou até a ensaiar alguns passos de samba.

Foi uma festa. Na porta do clube, o carro oficial da presidência da Câmara indicava a presença do novo chefe da Casa. Um Chinaglia sorridente era o centro das atenções da mesa composta por João Paulo, Mentor, pelo deputado Luiz Sérgio (PT-RJ) e pelo ex-deputado Professor Luizinho (PT-SP).

Na ponta da mesa, Cândido Vaccarezza (PT-SP) foi tão festejado quanto Chinaglia. Ilustre desconhecido na política nacional até agora, foi um dos principais operadores da vitória - e também quem reservou o local da festa. De eminência parda, fez seu début com o pé-direito e teve o trabalho reconhecido. Passou a noite ouvindo elogios. 'Nasce um articulador político', disseram. 'Imagina. Fui só um modesto colaborador', respondia, sem esconder a alegria.

Berzoini preferiu ficar ao ar livre, longe da imprensa e perto dos colegas que, como ele, enfrentaram os maus bocados dos escândalos. Em um cantinho perto da piscina, ele atraía a rodinha mais animada da noite. Foram chegando um a um: primeiro, Palocci, que fumava um charuto; em seguida, Mentor, Luizinho e Luiz Sérgio. Desvencilhados dos paletós, à exceção de Palocci, eles conversavam animadamente.

O presidente do PT era o que mais gesticulava, provocando gargalhadas em Mentor e Luizinho. Também era o que mais acenava para o garçom que cuidava de repor o uísque e o gelo nos copos dos participantes. Mas aí a velha paúra da imprensa mexeu com os petistas. Eles não queriam ser fotografados com bebidas e acabaram expulsando os fotógrafos. Em sinal de boa vontade, permitiram a permanência dos repórteres.

As duas grandes ausências foram o deputado José Genoino (PT-SP) e o ex-ministro José Dirceu, já que boa parte de seu grupo estava lá. Poucos nomes de outros partidos passaram pela festa, como o ex-líder do PTB José Múcio Monteiro (PTB-PE) e o ex-deputado José Borba (PMDB-PR), que renunciou em 2005 envolvido no escândalo do mensalão. Dos deputados do aliado PMDB, Chinaglia recebeu a inusitada visita de um grupo do Rio que nunca circulou com tanta desenvoltura entre petistas. Os peemedebistas Eduardo Cunha, Nelson Bornier e Alexandre Santos entraram em fila indiana e passaram pela mesa do novo presidente. Com eles, estava ainda o deputado Hugo Leal (PSC-RJ). Os quatro já integraram a tropa de choque do ex-governador Anthony Garotinho (PMDB), ferrenho combatente do PT. Mas, na madrugada de ontem, Garotinho era carta fora do baralho.

A simbiose entre os dois grupos era quase perfeita. 'Nunca tivemos problemas com os petistas. Tivemos com o PT do Rio. Havia o Garotinho ali no meio do caminho. Agora não tem mais', justificou Cunha.