Título: Serra mandou PSDB despejar voto em Chinaglia
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Fonte: O Estado de São Paulo, 03/02/2007, Nacional, p. A7

O governador de São Paulo, José Serra, trabalhou ativamente para eleger o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) para a presidência da Câmara. Tão logo terminou a apuração do primeiro turno, o governador paulista, que estivera em Belo Horizonte com o governador Aécio Neves, ligou para Chinaglia e assegurou parte dos votos do PSDB. A operação foi decisiva para a vitória do petista: na primeira votação, o adversário de Chinaglia, Aldo Rebelo (PC do B-SP), obteve 175 votos; se conseguisse herdar os 98 votos dados ao tucano Gustavo Fruet (PR), o atual presidente da Câmara teria se reelegido.

No plenário, foi tudo muito rápido. O líder do partido na Câmara, Antonio Carlos Pannunzio (SP), liberou a bancada para votar em qualquer um dos dois candidatos. Em uma operação que durou cerca de 15 minutos, o ex-líder Jutahy Júnior (PSDB-BA) procurou os tucanos alinhados aos dois governadores e, de forma cifrada, deu a ordem para que votassem em Chinaglia: 'A águia pousou'. A mensagem significava que era o momento de despejar votos no candidato petista. Logo em seguida, os deputados decidiram a eleição em favor de Arlindo Chinaglia.

No coração da campanha petista, a eficiência tucana foi duplamente comemorada. O primeiro motivo era o mais óbvio. A divisão do PSDB acabou servindo para fortalecer e unificar o PT no seu projeto de ganhar musculatura para influir ainda mais no governo Lula. A segunda razão para os festejos petista foi a avaliação de que Serra, em sua manobra, teria derrotado internamente o presidente da legenda, o senador Tasso Jereissati (CE), que criou arestas no partido por ter sugerido que apoiaria para a presidência, em 2010, o conterrâneo cearense Ciro Gomes (PSB). A ação de Serra também chocou-se com a posição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ao contrário do governador, o ex-presidente preferia Aldo Rebelo como voto tucano em um eventual segundo turno.

A dissonância entre os dois grupos havia ficado clara no mês passado, quando Jutahy chegou a anunciar publicamente apoio a Chinaglia, dizendo ter feito consulta telefônica aos integrantes da bancada, num movimento atribuído a Serra e a Aécio. Fernando Henrique em seguida divulgou nota informando que prometera apoiar Aldo e convocando o partido a rever sua posição, que julgava contraditória com o papel de oposição. O lançamento da candidatura Fruet pareceu reaglutinar o PSDB, mas desaguou nos lances de anteontem.

No início da madrugada de ontem, Aldo atribuía a derrota à uma suposta traição dos tucanos, que não teriam entregado os votos prometidos. Dos 98 votos em Fruet, Aldo obteve 65 - o restante teria recebido a ordem para votar em Chinaglia. A bancada tucana tem 64 deputados.

A ação de Serra e Aécio pode ter criado tensões no tucanato, mas tirou da linha de tiro do exército petista os dois governadores. Também criou clima mais amistoso nas Assembléias Legislativas de São Paulo e Minas Gerais para os dois governadores. Entre os tucanos, que reúnem a Executiva na próxima terça-feira, a avaliação é de que o preço do armistício foi muito alto. 'É lamentável, mas nós demos a presidência da Câmara para o PT', disse ontem o deputado José Aníbal (PSDB-SP).