Título: EUA ajudaram no relatório. E sem fazer objeções
Autor: Amorim, Cristina e Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/02/2007, Vida&, p. A25

Uma das grandes surpresas na divulgação do relatório do IPCC foi a postura assumida pelo governo dos Estados Unidos - país que não ratificou Kyoto, acordo internacional que estipula a redução nas emissões de gases-estufa, e um crítico das afirmações que os seres humanos são responsáveis pelo aquecimento do planeta.

Os representantes americanos não exerceram pressões sobre as estatísticas e terminologias adotadas no IPCC. Ao longo da semana, cientistas americanos expuseram suas informações sem serem contestados pelos emissários de George W. Bush. A situação contradisse o relatório da Union of Concerned Scientists (UCS), publicado nos EUA, cujo teor indicou que o trabalho de climatologistas americanos é alvo de pressões políticas. Uma pesquisa da entidade mostrou que mais de 45% dos cientistas americanos haviam dito saber de casos ou terem sido, eles próprios, objeto de pressões para expurgar de seus trabalhos termos como ¿aquecimento global¿.

Por meio de seu porta-voz, o presidente George W. Bush elogiou o trabalho do IPCC, dizendo que ¿este é um estudo muito valioso, com conclusões muito significativas¿. Uma exceção à essa postura foi a declaração do secretário de energia americano, Samuel Bodman. Ele tentou minimizar a responsabilidade dos EUA na questão dizendo que ¿o diálogo sobre a questão deve ser global¿. Os EUA são o maior poluidor global, responsável por 25% das emissões de carbono.

A independência científica foi uma das razões de comemoração da Organização Meteorológica Mundial (WMO) e do Programa de Ambiental das Nações Unidas (Unep). ¿Em algum momento leremos nos livros de história que o relatório impulsionou os políticos do mundo. Isso é motivo de esperanças¿, disse ao Estado Achim Steiner, diretor-executivo da Unep.

Depoimentos colhidos pelo Estado na cerimônia de lançamento do estudo indicam que a interferência dos delegados governamentais - quatro por país, dentre 130 nações - ao longo do congresso, realizado a portas fechadas, produziu um impacto mínimo sobre o relatório final.