Título: Nobel de Economia pede queda do juro no Brasil
Autor: Caminoto, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/02/2007, Economia, p. B6

Um crescimento econômico mais acelerado do Brasil depende de mais investimentos e de mudanças na condução da política monetária. A opinião é de Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia em 2001, professor da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, e ex-economista-chefe do Banco Mundial. 'A política monetária é um dos maiores impedimentos ao sucesso do Brasil', disse Stiglitz, em entrevista à Agência Estado.

Ele lembrou que o Brasil tem uma das mais altas taxas de juros do mundo - em termos nominais, 13%, e reais, de 8%. 'Particularmente entre os economistas de mercado há forte crença de que os juros reais fazem uma enorme diferença no potencial de investimentos em um país. Nos Estados Unidos, por exemplo, o juro real está em 2%.'

Segundo ele, o caminho está em acelerar o processo de corte de juros. 'O Brasil tem uma performance muito forte na área fiscal, no superávit primário e na balança comercial. Nessas circunstâncias, seria apropriado acelerar os cortes de juros.'

A avaliação do economista vai na contramão da atual política do Banco Central (BC), que na última reunião reduziu o ritmo de cortes da taxa básica de juros 0,25 ponto porcentual. 'O Banco Central está indo na direção errada. É sempre difícil avaliar, mas acho que (o BC) tem pecado pela cautela excessiva', disse Stiglitz, que foi professor do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga.

Segundo Stiglitz, o Brasil já reúne condições para ganhar maior confiança dos investidores. 'Se você olhar para outros indicadores, como superávit primário, daria ao Brasil um A, A+ (notas das agências de classificação de risco para países considerados graus de investimento) e diria que 'esse país deverá crescer muito rápido'. Mas algo que se destaca como negativo para o Brasil é a alta taxa de juro', ponderou. Atualmente o Brasil está a dois degraus do grau de investimento.

EUA

Stiglitz avalia que a economia dos EUA poderá crescer de 2% a 2,2% neste ano. 'Esse seria um pouso suave, bem suave. Mas há um risco substancial, de 20% de probabilidade, de um pouso brusco.'

Stiglitz afirmou ainda que o mercado de trabalho americano não parece estar tão apertado, como avaliam alguns analistas. Segundo ele, o mercado de trabalho está mais apertado, mas não tão bom como na década de 90, quando o desemprego chegou a bater 3,8% (hoje está em 4,6%). Ele alertou, porém, que existem alguns cenários em que o mercado poderia deteriorar-se substancialmente. Um deles seria um forte aumento das cotações do petróleo.

Stiglitz comentou que o atual presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, tem sido bem sucedido em evitar uma forte queda do crescimento. 'Ele herdou uma situação muito ruim do Greenspan (Alan Greenspan, ex-presidente do Fed)', observou.