Título: Brasil se distancia da elite do aço
Autor: Brito, Agnaldo
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/02/2007, Economia, p. B8

A perda da Corus para a rival indiana Tata Steel, na terça-feira, frustrou os planos da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e revelou como será difícil para a indústria brasileira do aço alcançar as primeiras posições do ranking mundial. Com isso, a siderurgia brasileira continua a se beneficiar parcialmente do mercado mundial de aço, que, ao contrário do Brasil, cresce de forma consistente.

Dados de 2006 divulgados esta semana pelo Instituto Internacional do Ferro e do Aço (Iisi, em inglês), que reúne 62 países produtores, mostram que, enquanto a produção de aço cresceu 9% no mundo, no Brasil, recuou 2,2%. O dado revela como o País perde oportunidades pelo fato de só alcançar o mercado externo a partir das exportações do Brasil.

A exceção continua a ser a Gerdau, única companhia brasileira com presença forte no exterior. O grupo produz mais de 13 milhões de toneladas de aço e ocupa a 14ª posição no ranking. O plano de internacionalização da Gerdau conserva uma estratégia que contempla a aquisição de pequenas operações.

Segundo Marcelo Aguiar, analista de siderurgia do Banco Merrill Lynch, a CSN poderá crescer com aquisições mais modestas ou expandir a capacidade produtiva de aço com a construção de uma usina de 4,5 milhões de toneladas de produtos semi-acabados no Brasil e se tornar uma grande mineradora, com o aumento da extração da mina Casa de Pedra, em Minas Gerais, de 16 milhões para 50 milhões de toneladas por ano até 2010.

A CSN diz que tais planos estão mantidos. Capital para financiar investimentos e compras, a empresa tem. Ela conseguiu de um grupo de bancos internacionais US$ 11,2 bilhões para adquirir a Corus, mais que o próprio valor. 'Há grande liquidez no mercado e interesse por projetos grandes', afirma Claudio Pitchon, vice-presidente executivo responsável pelo setor de Mineração e Siderurgia do Banco WestLB.

O mercado avalia que, ao mesmo tempo que é competitiva para compra de ativos no exterior, a CSN é atrativa para ser comprada. A aquisição da Corus a elevaria à 5ª posição no mundo e reforçaria a condição da empresa de consolidadora. Ao perder o negócio, além de ficar mais distante do topo do mercado, fica mais suscetível a ser incorporada por grupos estrangeiros.

Segundo Rodrigo Ferraz, analista de siderurgia da Brascan Corretora, a exposição obtida pela CSN pode elevar o assédio de outras siderúrgicas sobre a empresa. Há quem considere o momento para a criação de um supergrupo siderúrgico brasileiro. A meta seria evitar ofensiva externa e ampliar a capacidade de avançar no mundo. 'Faria todo o sentido a união da Gerdau com a CSN. A tentativa frustrada de compra da Corus poderia abrir essa possibilidade', disse um analista.