Título: 'Seria uma nódoa para a democracia'
Autor: Rosa, Vera e Leal, Luciana Nunes
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/02/2007, Nacional, p. A4

A tentativa de anistiar políticos envolvidos no escândalo do mensalão 'seria uma manobra casuística' que, se aprovada, representaria 'uma nódoa para a democracia e um retrocesso inaceitável para a cidadania', afirmou ontem em nota o presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cezar Britto.

Em reação às notícias de que o Campo Majoritário do PT começaria a coletar assinaturas para um projeto pela anistia do ex-ministro José Dirceu, o novo presidente da OAB ressaltou que essa mesma cidadania 'condenou expressamente o esquema de cooptação conhecido como mensalão'.

Na opinião de Britto, devolver os direitos políticos a Dirceu, assim como a parlamentares de outros partidos punidos pelo Congresso, é absurdo e não teria apoio político da sociedade brasileira. 'O Congresso tem que refletir a vontade do povo, seu soberano', disse. 'Não se tem dúvida do descompasso da legislatura passada, especialmente na questão dos mensaleiros.' Lembrou em seguida que 'anistiar e não punir mensaleiros são erros que se equivalem, ambos enquadrados na mesma classe corporativa que tanto mal causa ao Brasil'. 'O País não merece a reprise do dramalhão político que pautou o parlamento em tempos tão recentes.'

Britto afirma, no entanto, que a notícia divulgada pelo Campo Majoritário pode ser apenas fruto de manobras e especulações típicas do início de uma legislatura. Por isso, entende ele, a campanha dificilmente vai prosperar. 'Até pelas dificuldades políticas que a tese encerra, ela já nasce praticamente inviabilizada', observa o presidente da OAB.

AGENDA

Para ele, o Congresso que saiu das eleições de outubro de 2006 e as outras forças políticas do País têm um compromisso maior de 'fazer avançar a democracia e as medidas que coloquem o País na rota do crescimento econômico sustentado'.

Essas são as prioridades a serem seguidas, enfatizou o novo presidente - ele acaba de assumir o posto, sucedendo a Roberto Busato -, capazes de assegurar emprego, renda e justiça. 'É esta a agenda positiva que a sociedade espera de seus representantes, ao lado do compromisso com a ética, a probidade e o zelo com a coisa pública, para que não se repita o triste esquema do mensalão.'