Título: Desafio de ministro irrita congressistas
Autor: Madueño, Denise e Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/02/2007, Nacional, p. A9

Parlamentares governistas e de oposição reagiram ontem às declarações do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Marco Aurélio Mello, que desafiou os deputados e senadores a trocarem de salário com ele. O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), evitou polemizar e anunciou que o reajuste dos deputados não é mais prioridade. Mas houve quem condenasse as declarações de Marco Aurélio.

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) disse que é preciso comparar benefícios e adicionais do STF e dos parlamentares. 'Moradia, carro com motorista e viagens todos nós temos. Vamos esclarecer de uma vez por todas quais são os nossos e os adicionais do Supremo.'

O líder do PSDB na Câmara, Antonio Carlos Pannunzio (SP), classificou as declarações de Marco Aurélio como 'arroubos que não ficam bem com a respeitabilidade do cargo de ministro do Supremo'. O líder do PR, Luciano Castro (RR), alegou que a verba de gabinete, R$ 50 mil mensais, é para pagar funcionários. E provocou: 'O meu cargo não é vitalício. Somos submetidos a julgamento de quatro em quatro anos.'

O senador Gilvan Borges (PMDB-AP) se dispôs a exibir o contracheque para provar que ganha R$ 11 mil líquidos. 'Eu vivo no vermelho.' Borges propôs quebrar o sigilo bancário dos parlamentares nas contas específicas de pagamento de salário. 'Vão descobrir que aqueles que não são empresários nem têm renda extra estão todos com as contas abertas.'

José Múcio (PTB-PE), cotado para líder do governo na Câmara, amenizou: 'Não precisamos competição nem desafio. O que precisamos é verdadeiramente abrir as caixas-pretas para que a sociedade conheça a realidade de todos os Poderes.'

Para o líder do PFL no Senado, José Agripino (RN), a discussão salarial é um 'tema menor, que diminui o Parlamento.' A votação do aumento dos deputados foi uma das principais propostas de campanha de Chinaglia à presidência da Câmara. Ele chegou a declarar que o projeto que dava 28,4% de reajuste seria votado no máximo até o fim de fevereiro. Mas ontem recuou e negou que o aumento salarial seja prioridade.

Chinaglia disse que vai propor que os líderes partidários reúnam suas bancadas para decidir. A maioria é favorável ao aumento para R$ 16,5mil. No fim ano passado, deputados e senadores tentaram equiparar sua remuneração à dos ministros do STF, R$ 24,5 mil mensais, mas desistiram por causa da reação negativa da opinião pública.