Título: Lula diz a empresários que País não deve temer aumento de demanda
Autor: Chiarini, Adriana e Rodrigues, Alexandre
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/02/2007, Economia, p. B1

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem enfática defesa do crescimento da demanda no País. As declarações foram interpretadas como recado ao Banco Central, que na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) mencionou 18 vezes a palavra "demanda", alertando para o risco de seu crescimento. "O País não pode continuar tendo medo de crescer. Não pode continuar tendo medo do aumento da demanda. O Brasil tem de ter medo é da diminuição da demanda. Os empresários brasileiros vão ter de se preparar para a oferta, porque na hora que começa a demanda começa a precisar de oferta", disse Lula.

O discurso do presidente foi feito cinco dias após a divulgação da Ata do Copom, que reduziu o ritmo de queda da taxa Selic para 0,25 ponto porcentual. O documento deixa nas entrelinhas que os efeitos fiscais do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) se somariam a uma ¿demanda agregada que já cresce a taxas robustas¿. Segundo o Copom, esta seria a principal causa da interrupção na seqüência de cortes de 0,5 ponto porcentual, iniciada em maio de 2006.

A declaração de Lula em favor da demanda põe lenha na fogueira das discussões sobre a conveniência de se acelerar a redução da taxa de juros para ajudar a conter a queda do dólar e, com isso, estimular o crescimento de setores francamente exportadores. Ontem, foram várias as manifestações de políticos,empresários e economistas em torno do tema - o que provocou a convocação de uma reunião extraordinária da equipe econômica (ver abaixo).

Na avaliação do presidente, deve-se expandir a oferta, em vez de restringir a demanda. "Se não tiver oferta, vão aumentar as importações." Seguindo esse raciocínio, o presidente cobrou, na cerimônia de assinatura de convênio para estudos e projetos das obras do Arco Rodoviário do Rio (uma das prioridades do PAC), mais investimentos privados. Para ele, a economia está equilibrada e pronta para crescer.

Lula chegou a chamar a atenção de empresários presentes, como o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Fierj), Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira. "Meu caro Eugenio, meus caros dirigentes da Federação de Comércio, está na hora de a gente assumir as responsabilidades, não ficar cada um no seu canto, julgando os erros dos outros."

O presidente quer que os empresários invistam não só em produção, mas também em infra-estrutura, inclusive por meio das Parcerias Público-Privadas (PPPs). "Nós estamos com PPPs por aí para serem aprovadas e nós não fizemos até agora nenhuma PPP."

Ele também indicou que a política econômica no segundo mandato poderá ser um pouco mais flexível e com foco no crescimento. "Eu disse que era preciso começar a destravar o País. Destravar o País significa a gente ter uma lógica econômica com menos tensão do que tivemos no primeiro mandato."

REPETIÇÃO

Na última ata do Copom, divulgada na semana passada, a palavra "demanda" foi citada 18 vezes. Veja alguns contextos:

A despeito da recente expansão da demanda agregada, ainda não se antecipam descompassos significativos entre oferta e demanda agregada que possam determinar desvios da inflação da trajetória de metas. Entretanto, a trajetória da inflação mantém estreita relação com os desenvolvimentos correntes e prospectivos no tocante à ampliação da oferta de bens e serviços para o adequado atendimento à demanda.

Os efeitos defasados dos cortes de juros sobre uma demanda agregada que já cresce a taxas robustas, se somarão a outros fatores que continuarão contribuindo de maneira importante para a sua expansão.

Um conjunto de pressões de preços, a princípio isoladas e transitórias, atinge a economia em um momento em que a demanda doméstica se expande a taxas robustas.