Título: Efeito câmbio segura expansão industrial
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/02/2007, Economia, p. B3

Três segmentos da indústria contribuíram especialmente para que o setor não registrasse expansão maior em 2006, e todos têm em comum o câmbio como principal entrave para o crescimento. O principal impacto negativo para a indústria em 2006 foi dado pela atividade de madeira, com queda de 6,9% na produção. Em seguida, as principais influências de queda, pela ordem, foram dadas por vestuário (-2%) e outros produtos químicos (-0,9%).

A produção industrial cresceu 2,8% em 2006, desempenho inferior à expansão de 3,1% em 2005. O peso desses segmentos na estrutura da pesquisa industrial mensal do IBGE, aliado aos recuos na produção, determinou a influência negativa.

A gerente de análises e estatísticas da coordenação de indústria do IBGE, Isabella Nunes, explica que, no caso da madeira, a queda na produção em 2006 foi determinada pelo câmbio, já que essa atividade é exportadora, e pelo aumento da fiscalização ambiental.

O economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Edgard Pereira, explica que o câmbio está reduzindo a competitividade dos produtores de madeira, que dependem do mercado externo. ¿As exportações perderam muita força, porque há pouca rentabilidade¿, disse.

Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, as exportações de madeira compensada caíram 17,2% em 2006 ante 2005, em cima de uma queda forte (-12,0%) que já tinha ocorrido em 2005 ante 2004.

Sobre a indústria do vestuário, Isabella lembra que este é um dos setores mais afetados pelo câmbio. Pereira também destaca os problemas que o dólar baixo tem representado para essa atividade, que vem enfrentando uma concorrência desleal de produtos vindos sobretudo da China, mas também de países como a Índia.

As importações do segmento de vestuário e outras confecções aumentaram 64% em 2006 ante 2005. O crescimento ocorreu sobre uma base já muito elevada, pois em 2005 as importações tinham aumentado 54,6% ante 2004. Somente em dezembro de 2006, o aumento das importações de vestuário chegou a 116% na comparação com igual mês de 2005.

Já a queda na produção de produtos químicos ocorreu de forma predominante em herbicidas e filmes e papéis fotográficos, explica Isabella. Ela observa que o mau desempenho do segmento está relacionado à crise agrícola de 2005, que respingou sobre 2006; no caso dos materiais fotográficos, o problema foi a substituição das máquinas tradicionais pelas digitais.

Pereira, do Iedi, garante que também neste caso há influência negativa do câmbio. Segundo ele, há hoje muita importação de herbicidas da China, a custos muito baixos, o que torna muito difícil a situação dos fabricantes brasileiros.