Título: 'Nada garante que esse juro segura a inflação'
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/02/2007, Economia, p. B3

O economista Luís Paulo Rosenberg, sócio da Rosenberg e Associados, diz que diversos fatores explicam a valorização do real. A alta taxa de juros é um deles. O mais importante, afirma, é que ¿está havendo uma revolução capitalista como nunca tivemos¿. Nessa conversa com o Estado, ele comenta a alta da moeda brasileira.

Essa onda de valorização do real está ligada à decisão do Banco Central (BC) de reduzir o ritmo de queda da taxa Selic?

Podemos dizer que o BC foi excessivamente cauteloso. Mas há muitos fatores que explicam o fortalecimento do real. O que está entrando de dólar no Brasil é assombroso. A liquidez mundial é abundante e a percepção de risco do País melhorou. Está havendo uma revolução capitalista como nunca tivemos. Pouca gente fala disso, mas houve grande evolução com o Novo Mercado da bolsa. A decisão sobre o que fazer no câmbio é difícil. Ou fazemos à la China, colocando o real num nível que beneficie a indústria, ou deixamos as forças de mercado decidirem. Nesse caso, a globalização elege os setores em que os países têm vantagens comparativas. No Brasil, são os bens intensivos em natureza e aí fica difícil sustentar a produção industrial.

Mas o diferencial entre os juros internos e externos não contribui para a alta do real?

A arbitragem contribui. Mas é um problema estrutural. O Brasil é palco de uma expansão do capitalismo. Um país como o nosso tem de tomar riscos. Não há evidência empírica de que esse juro segura a inflação.

O BC tem medo da demanda?

Sim. Se o juro fosse determinado pelo mercado, não estaria nesse nível. É um artificialismo atroz. Há países como o nosso, com inflação na casa de 3%, em que o juro real é de 2% ao ano. Essa não é uma história nova, existe há 10 anos. Lá na frente, vai virar tese de mestrado. Olharemos para trás e veremos quanto tempo perdemos. Infelizmente, não há um Tribunal de Nuremberg para economistas.

Qual a sua projeção para a Selic no fim do ano?

11,5%, mas 9% estaria mais do que bom.