Título: Mercado também pressiona o BC
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/02/2007, Economia, p. B3

O dólar voltou a cair ontem, para R$ 2,086, apesar de novas compras da moeda americana pelo Banco Central (BC), estimadas em US$ 480 milhões. Desde o início do ano, o mercado calcula que o BC já comprou US$ 6,6 bilhões. Para uma corrente de analistas, a redução do ritmo de queda da Selic, a taxa básica de juros, de 0,50 ponto porcentual para 0,25, é uma das principais causas da nova onda de desvalorização do dólar. Assim, a única forma de brecar a valorização do real é reacelerar a queda da Selic. Em sua reunião de janeiro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC cortou a Selic de 13,25% para 13% ao ano.

¿Hoje em dia, não dá para ter controles de capitais, então o que resta é baixar a Selic mais rapidamente¿, diz Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC e chefe do Departamento Econômico da Confederação Nacional do Comércio (CNC). A opinião está em linha com o que disse ao Estado, na segunda-feira, o diretor-executivo do Banco Itaú, Sérgio Werlang, ex-diretor do BC, para quem ¿seria muito mais interessante cortar o juro mais rapidamente do que continuar acumulando reservas¿.

Thadeu e Werlang também coincidem em considerar que a redução do ritmo de cortes para 0,25 ponto deu muita previsibilidade ao mercado de que o diferencial entre as taxas de juros internas e externas vai ser fechado lentamente. Isso, por sua vez, dá segurança aos investidores internacionais para apostar nos juros brasileiros. O economista da CNC é particularmente crítico do emprego da palavra ¿parcimônia¿ na última ata do Copom, que, segundo ele, ¿prefixou o ritmo da queda para o mercado¿.

Mesmo economistas que não criticam o BC, como Ilan Goldfajn, principal executivo da Ciano Investimentos e ex-diretor do BC, associam a pressão de desvalorização do dólar dos últimos dias à desaceleração da queda da Selic. ¿A redução do ritmo de queda animou o pessoal no câmbio, que está testando o BC¿, ele diz.

Goldfajn acha que está correta a posição do BC de atuar mais pesadamente no câmbio, no momento em que desacelerou o ritmo dos cortes para ter sinais mais nítidos do efeito da redução da Selic na inflação (isso não quer dizer que ele necessariamente concorde com a redução do ritmo de queda da Selic). ¿Eu acho certo suavizar a queda do dólar nessa situação¿, diz o economista.

Octavio de Barros, diretor de Pesquisa Macroeconômica do Bradesco, considera que o problema cambial pode estar sendo superestimado. ¿Ninguém tem de perder o sono por causa disso¿. Segundo as estimativas do Bradesco, a taxa de câmbio de equilíbrio de longo prazo hoje estaria em R$ 2,11, pouco acima do nível atual.

¿As coisas estão indo muito bem, o BC deve continuar comprando e fazendo uma redução gradual e segura dos juros, e o câmbio vai encontrar seu equilíbrio depois deste momento um pouco mais especulativo¿, diz Barros. Ele observa que a valorização do real não está vindo apenas do lado financeiro. ¿As exportações estão muito robustas neste início do ano, não só em preços, mas também em quantidades, especialmente no agronegócio.¿