Título: Kirchner nega manipulação dos índices de inflação
Autor: Guimarães, Marina
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/02/2007, Economia, p. B7
O presidente da Argentina, Néstor Kirchner, negou ontem que seu governo tenha manipulado os índices de inflação, como vem sendo acusado. Mas as suas palavras não ajudaram a acalmar o mercado, a oposição, os economistas e a população. Os bônus em pesos indexados à inflação chegaram a se desvalorizar mais de 1% no início da manhã de ontem, e fecharam o dia com perda de 0,15%.
A suspeita de manipulação oficial surgiu na semana passada, depois da demissão da chefe do Departamento de Índice de Preços ao Consumidor do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), Graciela Bevacqua, no cargo havia 15 anos. Sua substituta é vista como mais alinhada com o governo.
Na semana passada, os funcionários do Indec ameaçaram entrar em greve, faltando algumas horas para a divulgação da inflação de janeiro, que ficou em 1,1%. A cifra ficou distante das projeções das consultorias, de algo em torno de 2%. O Banco Central (BC) esperava um índice próximo de 1,5%.
Os conflitos no Indec tiveram impacto negativo nos títulos indexados em pesos. Segundo analistas, esses bônus perderão a atração. Mas os mais ponderados dizem que ¿o investidor olha a inflação anual, que foi de 10% em 2006 e está projetado para até 12% neste ano¿, explica Hernán Fardi, da consultoria Maxinver.
Segundo ele, o mercado reagiu mais à forma como foi feita a mudança de nomes no Indec do que à variação dos preços. ¿É natural que um mês ou outro apresente uma variação maior dos preços¿, argumenta. Segundo ele, a interferência do governo ¿não significa que o número oficial será muito diferente dos que são elaborados por outras consultorias porque seria um custo político alto demais¿.
Em meio à polêmica, a oposição aproveita para atirar pedras em Kirchner, quem enfrentará eleições presidenciais em outubro. ¿O governo deixa o país novamente sem estatísticas básicas, como ocorreu no governo militar¿, disse Roberto Lavagna, ex-ministro de Economia e candidato à Presidência.
Em entrevista à Rádio Continental, Lavagna afirmou que o governo fez ¿uma operação vergonhosa de preenchimento de cargos técnicos, jurídicos, econômicos e estatísticos no Ministério da Economia.¿
Outro pré-candidato presidencial, o deputado Maurício Macri, do partido Pro, criticou Kirchner sem poupar os dados da inflação de janeiro. Ele afirmou que o índice real do aumento do custo de vida foi de 2,1% e não de 1,1% , como divulgou o Indec. ¿Já não se pode confiar nos números oficiais¿, disse Macri, acrescentando que seu partido vai fazer levantamento de preços.
¿Não vou permitir que ex-burocratas administrem este governo eleito pelo povo¿, respondeu Kirchner. Ele atribuiu os temores de manipulação aos economistas que trabalham ¿amparados em interesses econômicos¿. Também contestou a imprensa por ter criticado a troca de cadeiras no Indec. ¿Não nos assustamos com duas capas de jornais porque fazemos uma mudança¿, ressaltou Kirchner.