Título: De roupa nova e olho no poder
Autor: Kramer, Dora
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/02/2007, Nacional, p. A6
O modelo é o PP espanhol, que integrou a ditadura franquista, teve papel essencial na reconstrução da democracia, com o Pacto de Moncloa, perdeu algumas eleições e depois passou oito anos no poder.
Na medida do possível, guardadas as proporções convenientes e observadas as condições locais, o PFL pretende repetir a trajetória.
Hoje anuncia a mudança de nome para Partido Democrata, alteração de estatutos, dissolução das instâncias enferrujadas da Frente Liberal criada em 1985 para integrar a Aliança Democrática que conduziu a transição do regime autoritário para o governo civil e a passagem do bastão para a nova geração de políticos, cuja missão primordial será a reconquista do poder perdido depois de uma vida toda de vocação governista.
Não se assumirá como força de direita. O rótulo não lhe trouxe benefícios e, por isso, o condutor dessa passagem, um dos construtores dos 22 anos de PFL, o ex-senador Jorge Bornhausen, que deixa a presidência do partido dia 28 de março, prefere falar em "modernidade".
A escolha da bandeira da defesa do cidadão objetiva a aproximação com a sociedade e a diferenciação do estilo populista representado pelo presidente Luiz Inácio da Silva e incorporado pelo PT.
As primeiras armas dessa batalha já estão escolhidas: a defesa do fim da CPMF, a resolução definitiva das receitas constitucionalmente vinculadas no Orçamento, a apresentação de uma emenda constitucional propondo a revogação total do instituto das medidas provisórias, contundência na defesa de teses como a privatização, começando pela proposta de extinção da Infraero, e entrega dos aeroportos à administração da iniciativa privada.
São polêmicas de boa monta para quem dispõe hoje de tropa reduzida e até por isso mesmo percebeu que, se quer destaque, precisa ser assertivo. "Defender idéias com clareza. Haverá quem goste e quem não goste. Mas o pior é ficar no meio do caminho, aceitando mentiras convenientes por falta de coragem de falar as verdades inconvenientes", diz Bornhausen.
A necessidade da mudança do figurino já foi constatada há tempos, mas se impôs como urgência agora, diante da evidência de que o PFL está minguando. Na reunião da Comissão Executiva de hoje, o cientista político Antônio Lavareda Filho vai apresentar os dados: de 1990 para cá, a representação do partido se reduziu drasticamente.
Há 17 anos, tinha 25% dos governadores; hoje tem 4%. Tinha 16% dos deputados federais de todo o País; hoje tem 10%. Em 1992 elegeu 20% dos prefeitos; em 2004, 14%. Só no Senado a redução foi menos acentuada: de 25% para 22% . E isso por quê?
"Porque o partido deixou de ter candidatos, não se renovou, não conseguiu se manter como atrativo, as estruturas regionais viraram cartórios de velhas e acomodadas lideranças e, além disso, perdeu duas oportunidades de disputar a Presidência em condições competitivas", relata Bornhausen, referindo-se à morte de Luís Eduardo Magalhães em 1998 e à eclosão da candidatura Roseana Sarney, em 2002.
A tarefa do PD é, primeiro, estancar a curva de queda do PFL, e, depois, disputar todas as eleições que puder. "O PT cresceu fazendo isso, correndo risco eleitoral e sendo contundente em seus postulados."
Antes de tudo, porém, a mudança tem o objetivo de "encerrar duas discussões": a identificação do partido com o regime militar - "que aconteceu quando boa parte dessa nova geração do partido mal era nascida" qualificação de "direita", dado o sentido pejorativo do termo. Daí a idéia de adotar a marca da "modernidade", sustentada no combate ao "triângulo do atraso": injustiça social, Estado máximo e cidadão mínimo.
Ah, sim: o Nordeste, região outrora forte do PFL, é dado como perdido para o PT. O foco do PD é o eleitorado do Centro-Oeste, menos dependente do Estado. ¿Só dá para crescer por aí¿, constata o presidente em vias de deixar a linha de frente, mas sem intenção de abandonar a política: formará, com a velha-guarda pefelista, um conselho de orientação à ¿gente moça¿ sobre as artes e as manhas do poder.
Liliput
Com a derrubada da cláusula de barreira pelo Supremo e a redistribuição do fundo partidário pelo TSE, a Justiça pretende tratar como iguais os diferentes e acaba por privilegiar os incipientes.
Fim do caminho
Tem ministro do PT garantindo que o presidente Lula pensa na possibilidade de sondar um tucano para ocupar um ministério.
O nome em questão seria o do ex-líder do PSDB na Câmara Jutahy Magalhães, aquele que encaminhou o apoio oficial do partido a Arlindo Chinaglia e pagou a conta do desgaste.
Tucanês
Segundo o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, não houve um acordo entre o PSDB e o PT para eleger o presidente da Câmara. O que houve foi um "entendimento" no segundo turno.