Título: Lula pede paz, mas Tarso e Dirceu irão à guerra em encontro do PT
Autor: Nossa, Leonencio
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/02/2007, Nacional, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pedirá hoje, durante jantar em Salvador para comemorar os 27 anos do PT, o fim da guerra das correntes internas pelo controle do partido. Nos últimos dias, Lula tem recomendado ao ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, e ao ex-ministro e deputado cassado José Dirceu que cessem o conflito. Mas ontem mesmo ambos voltaram a trocar farpas. Tarso disse que a proposta de anistia para o ex-ministro não está na agenda do governo nem será discutida em Salvador. ¿Essa é uma questão em que o governo não se manifesta¿, afirmou. Irritado, Dirceu avisou que sua corrente no PT, o Campo Majoritário, não cometerá suicídio político, como gostariam o ministro e seus aliados.

Indagado se seu grupo iria se opor à proposta de anistia, Tarso respondeu: "A direção, se for suscitada, vai se manifestar, mas, que eu saiba, não o será."

A briga petista levou Lula a evitar conversas sobre a composição do novo ministério, uma das causas das divergências no partido. Segundo uma pessoa próxima do presidente, ele vai hoje a Salvador disposto a salvar o encontro. Marcado na capital baiana para festejar o triunfo do petista Jaques Wagner no Estado contra o PFL do senador Antonio Carlos Magalhães nas últimas eleições, o evento começa hoje e vai até amanhã.

BOMBARDEIO

O temor de Lula é que o encontro se transforme num bombardeio entre as correntes do partido. De um lado, Tarso, que chegou a propor um documento pedindo a refundação do PT e reacendendo o debate sobre o envolvimento de petistas em casos de corrupção. No outro, Dirceu, que trabalha contra a indicação do ministro das Relações Institucionais para a pasta da Justiça.

Por telefone e em encontros no gabinete do terceiro andar do Palácio do Planalto, Lula deixou claro aos dois que não quer ouvir falar nem em proposta de anistia política para Dirceu nem em refundação do partido, como prega Tarso.

Em Salvador, Lula dará ênfase ao fim dos 16 anos de hegemonia do grupo comandado por ACM. Fará elogios a Wagner e ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que prevê um total de R$ 503,9 bilhões em investimentos em infra-estrutura no País nos próximos quatro anos. Um assessor relatou que o presidente pretende seguir a mesma linha do discurso feito no encontro de novembro do Diretório Nacional do PT, em São Paulo. À época, ele afirmou que o partido tinha de voltar a ser um exemplo, com a ¿correção de rota¿ e o fim das disputas internas.

VERSÃO

Em entrevista pela manhã a um programa de rádio da estatal Radiobrás, Tarso negou veracidade à versão de que Lula o teria mandado moderar o tom de suas críticas à pretensão de Dirceu de reunir 1,5 milhão de assinaturas para apresentar um projeto de lei pleiteando anistia política. "Não há nenhum tipo de recomendação do presidente", afirmou.

Perguntado se Lula lhe teria dito para ¿calar a boca¿ sobre o assunto, o ministro respondeu que o presidente não dá ouvidos a ninguém em questões partidárias. "Nem penso que o presidente daria ouvidos para qualquer recomendação, seja de quem quer que fosse, para intervir nas questões internas do partido", disse Tarso."