Título: Palestinos acertam pacto de coalizão
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Fonte: O Estado de São Paulo, 09/02/2007, Internacional, p. A12

Empenhadas em evitar que os conflitos entre seus militantes se transformem numa guerra civil, as duas facções rivais palestinas - o grupo islâmico Hamas e o partido laico Fatah - selaram ontem um acordo para a formação de um governo de coalizão numa cerimônia em Meca, na Arábia Saudita. O acordo prevê a divisão de ministérios, sendo que as pastas mais cobiçadas (Interior, Finanças e Relações Exteriores) serão entregues a políticos independentes.

A Declaração de Meca foi assinada pelo presidente palestino, Mahmud Abbas, do Fatah, e por Khaled Meshal, líder do Hamas no exílio, após dois dias de discussões patrocinadas pelo rei Abdala. ¿Inauguramos uma nova era com um governo capaz de pôr fim ao sofrimento de nosso povo¿, disse Abbas.

No fim do dia, um assessor de Abbas leu uma carta do presidente na qual ele encarrega o primeiro-ministro, Ismail Haniye, do Hamas, de formar outro gabinete. Segundo Abbas, o novo governo ¿respeitará¿ os acordos de paz já assinados com Israel - o estatuto do Hamas prega a destruição do Estado judeu.

A esperança dos líderes palestinos é a de que a formação de um governo conjunto acabe com a onda de violência que já deixou 90 mortos desde dezembro nos territórios palestinos e convença a comunidade internacional a suspender as sanções econômicas impostas à Autoridade Palestina desde que Haniye assumiu o controle do governo, em março.

Os principais pontos do pacto são os seguintes:

Haniye ficará no cargo;

Fatah terá sete ministérios e o Hamas, nove;

As pastas de Relações Exteriores e Finanças serão entregues a políticos independentes.

O Ministério do Interior (que controla as forças de segurança) também ficará com um político neutro, que Abbas deverá escolher entre cinco nomes indicados pelo Hamas.

Durante as negociações causou polêmica a discussão sobre as exigências impostas pela comunidade internacional para reconhecer o novo governo palestino. Os EUA e a União Européia querem que o Hamas renuncie à violência, reconheça o direito de existência de Israel e se comprometa a respeitar os acordos de paz já firmados.

Segundo negociadores palestinos, o Fatah queria incluir no texto do pacto um compromisso explícito com esses acordos de paz, mas o Hamas resistiu, aceitando apenas uma menção de ¿respeito¿ a tais acordos.

Em Gaza, o sucesso das negociações entre o Hamas e o Fatah foi celebrado com salvas de tiros por uma hora. Anteontem, simpatizantes dos dois grupos procuraram fortalecer suas posições, construindo barricadas em torno dos seus escritórios para se preparar para um eventual fracasso do diálogo em Meca.

A crise política entre as duas facções palestinas teve início após a vitória do Hamas nas eleições legislativas de janeiro de 2006. Com o boicote da comunidade internacional, os palestinos deixaram de receber mais de US$ 1 bilhão em ajuda - o que tem impedido o pagamento dos salários do funcionalismo e o funcionamento de escolas e hospitais. Os conflitos entre simpatizantes dos dois grupos se intensificaram no fim do ano passado, quando Abbas ameaçou dissolver o gabinete de Haniye e convocar eleições antecipadas para pôr fim ao impasse entre o Hamas e a comunidade internacional.