Título: Prisão de vice-ministro abre crise
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Fonte: O Estado de São Paulo, 09/02/2007, Internacional, p. A14

Forças iraquianas e americanas invadiram ontem o Ministério da Saúde, em Bagdá, e prenderam o vice-ministro Hakim Zamili. Membro do bloco político liderado pelo clérigo xiita antiamericano Muqtada al-Sadr, Zamili é acusado de desviar verbas para milícias, infiltrar insurgentes no ministério, seqüestrar e matar rivais, além de outros crimes.

Há suspeitas de que a prisão faça parte de uma recente operação do governo do Iraque e do EUA para prender e matar aliados de Al-Sadr, sejam integrantes do governo ou da milícia do clérigo, o Exército Mehdi. Recentemente, o Pentágono classificou o Mehdi como a principal ameaça à paz no país, superando a insurgência contra americanos e a ação da Al-Qaeda. Além de Zamili, vários seguranças também foram presos pelos soldados, que reviraram o escritório e quebraram móveis e computadores.

A prisão do vice-ministro causou revolta entre os aliados de Al-Sadr. ¿Os americanos estão tentando empurrar o movimento sadrista para um confronto. De que outra maneira pode ser entendida a captura de um ministro sem uma ordem de prisão?¿, protestou Abdel al-Matiri, porta-voz de Al-Sadr.

O Exército americano, entretanto, divulgou um comunicando justificando a detenção. ¿O funcionário de alto escalão preso hoje (ontem) é suspeito de corrupção, incluindo o desvio de milhões de dólares para o Exército Mehdi¿, diz o documento. Os EUA também acusam Zamili de envolvimento em casos de seqüestros e mortes de autoridades do governo. Segundo a rede britânica BBC, ele também é suspeito de usar as ambulâncias do ministério para transportar armas para o Exército Mehdi.

O premiê iraquiano, Nuri al-Maliki, não comentou a prisão. Um funcionário do governo, porém, disse que a ação pretendia mandar uma mensagem clara de que ninguém está acima da lei. ¿A idéia era dizer que nossas intenções são sérias e mesmo autoridades do governo não irão se esconder em ministérios¿, disse o funcionário, sob anonimato. Eleito com o apoio dos sadristas, Maliki foi acusado pelos EUA de não agirem para deter o Exército de Mehdi. Desde então, vem tomando medidas para rebater essas acusações e, assim, permanecer no cargo.

Uma investigação do Departamento de Defesa concluiu que algumas das informações de inteligência do Pentágono antes da guerra com o Iraque - incluindo o argumento de que a CIA minimizou as possíveis ligações da Al-Qaeda com o deposto presidente Saddam Hussein - foram inapropriadas, mas não ilegais. O relatório será apresentado hoje ao Congresso.