Título: Ex-presidentes defendem autonomia formal do banco
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/02/2007, Economia, p. B4
Ex-presidentes do Banco Central (BC) são unânimes em considerar que a autonomia informal da instituição abre espaço para a saraivada de críticas contra o banco, como vem ocorrendo de dentro e fora do governo. A avaliação é de que esse tipo de pressão afeta o ânimo de diretores e funcionários do banco e pode acabar até por inibir reduções maiores dos juros nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom). ¿Fica muito mais complicado tomar uma decisão dessas (futura redução). Vão sair dizendo que o BC fez isso por causa das críticas. Vão tentar capturar politicamente isso. É uma situação complicada¿, advertiu o ex-presidente do BC Gustavo Loyola. ¿Uma autonomia informal deixa os diretores vulneráveis e expostos a críticas desse tipo, infundadas¿, disse o ex-presidente da instituição Carlos Langoni. Eles defende a autonomia regulamentada do BC.
Francisco Gros, que também já dirigiu o BC, é outro que defende a autonomia em lei. ¿Essa é uma discussão velha, de décadas. A autonomia já deveria ter sido efetivada há muito tempo.¿
De maneira geral, Gustavo Loyola avalia que as críticas, ¿de conteúdo ideológico¿, partem dos mesmos personagens do governo e do PT. Ele indica que as discordâncias internas ficaram mais evidentes com a saída do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci.
Para ele, o atual ministro, Guido Mantega, embora faça declarações formais em favor do presidente do BC, Henrique Meirelles, tem visão da política monetária diversa da autoridade monetária. ¿Não vejo comunhão entre o pensamento econômico do Guido Mantega e do BC. Aliás, isso me parece quase inédito na República¿, afirmou. Ele também elogia atuação do BC, citando a queda do risco-país, e afirma que não é por conta dos juros que o Brasil não cresce mais.
¿Evidentemente, pode-se sempre discutir se o Copom poderia ter sido mais ou menos conservador. Mas naquele intervalo de responsabilidade os juros não poderiam estar muito abaixo de onde estão hoje.¿ Loyola também alerta que as causas do baixo crescimento são ¿muito mais de natureza estrutural do que de política monetária¿.