Título: Lula tenta contornar disputa por ministérios em reunião com PMDB
Autor: Rosa, Vera e Tosta, Wilson
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/02/2007, Nacional, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva inicia hoje a negociação com o PMDB para compor a equipe do segundo mandato tendo a missão de apaziguar a primeira disputa escancarada entre os aliados. Motivo: em reunião de seu Diretório Nacional, no sábado, o PT aprovou resolução que deixa claro o espaço que cobiça no governo. Na lista dos ministérios considerados estratégicos pelos petistas estão Comunicações, Saúde e Minas e Energia, todos ocupados hoje pelo PMDB.

Com o argumento de que a execução satisfatória do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) depende de ¿quadros e equipes afinados¿ com a rota do desenvolvimento, o PT também mostra interesse por ocupar Cidades, Integração Nacional e Transportes, sem esquecer as estatais subordinadas a esses ministérios.

A trinca que compõe o chamado ¿eixo da infra-estrutura¿ é controlada pelos aliados PP, PSB e PR e também é objeto do desejo peemedebista, que quer ampliar sua cota no governo. Na outra ponta, a área de Comunicações promete ser o novo alvo da briga por dois motivos: a entrada da TV digital no País e o projeto do PT de pôr em funcionamento um ¿sistema público de rádio e TV¿.

¿Essa é uma equação administrativa delicada, que precisa ser cuidada politicamente para não gerar atritos de natureza fisiológica¿, afirmou o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), que conversará hoje com Lula, no Palácio do Planalto, acompanhado dos líderes do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), e no Senado, Valdir Raupp (RO). Para Temer, Lula montará o quebra-cabeça ouvindo os ¿interesses do governo de coalizão¿.

O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), procurou amenizar o teor da resolução aprovada em Salvador ao lembrar que o texto também sublinha a importância da coalizão para o governo Lula. ¿Não estamos reivindicando cotas no governo e respeitamos nossos aliados¿, disse Berzoini. ¿Nem sempre o que é estratégico deve ficar com o PT.¿

Na prática, a cúpula petista sabe que dificilmente conseguirá reconquistar ministérios como Saúde e Cidades e muito menos abocanhar o de Comunicações. No caso do PMDB, porém, a cúpula deseja a troca do ministro Hélio Costa, que, no diagnóstico de petistas, representa apenas um setor e não executa políticas defendidas pelo PT. Quer, ainda, influir nas estatais subordinadas à pasta.

¿A direção do PT, de comum acordo com o presidente Lula, colheu as demandas do partido nos Estados, não só por ministérios como por órgãos federais¿, declarou o deputado estadual Raul Pont, do Rio Grande do Sul. ¿Agora, vamos submetê-las à avaliação do governo, mas evidentemente existem áreas estratégicas para nós.¿

Cotado para integrar a equipe de Lula, o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) disse que não vai entrar em disputa com o PT. ¿Essa decisão cabe única e exclusivamente ao presidente¿, desconversou, diplomático. Geddel é citado para comandar tanto Integração Nacional como Transportes.

Ainda nesta semana, Lula terá reuniões com as cúpulas do PP e do PDT. A coalizão de apoio ao governo tem 11 partidos, mas as conversas com os demais ocorrerão só depois do carnaval, indicando que a reforma sairá em meados de março.

Além de dar cotoveladas nos aliados, o PT também promete brigar na seara interna: a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy pode assumir a Educação, que já está nas mãos do petista Fernando Haddad. Aliados de Marta pensam longe: em 2010, ela pode ser um dos nomes fortes no PT para a sucessão de Lula e um ministério com visibilidade impulsionaria seu projeto político. Não é à toa que a resolução petista aprovada no encontro de Salvador destaca a Educação como ¿eixo¿ do programa de governo de Lula para o segundo mandato.

TRECHOS DA RESOLUÇÃO

Sobre o novo ministério:

¿Por sua importância para a retomada do desenvolvimento e pelos efeitos sociais que produz, os ministérios que se ocupam da infra-estrutura - Cidades, Integração Regional, Minas e Energia e Transportes -, bem como as estatais correspondentes, devem ser ocupados por quadros e equipes afinados com os imperativos do crescimento com distribuição de renda e com a preparação do País para novo e longo ciclo de desenvolvimento.¿

¿Tem especial importância a condução do Ministério do Desenvolvimento Social e as áreas da saúde e da educação, esta última figurando como um dos eixos do Programa de Governo vencedor em outubro último.¿

Sobre o PAC e a economia:

¿O mais importante do PAC são seus potenciais efeitos sociais, diretos e indiretos, como geração de empregos, por exemplo. Para isso, o governo e os partidos que o apóiam precisam enfrentar e derrotar alguns obstáculos. Os neoliberais atacaram o plano por ser `estatista¿ e, principalmente, por não ser um plano de cortes de gastos públicos e por não tratar pela ótica neoliberal o tema da Previdência e a legislação trabalhista.¿

¿Entendemos que há condições para acelerar a redução da taxa de juros e criticamos, enfaticamente, o conservadorismo da mais recente decisão do Copom. Na leitura do Copom, os investimentos previstos no PAC constituem aumento dos gastos públicos, que aumentarão a demanda, que pressionará os preços, gerando inflação. (...)¿

Sobre a comunicação:

¿A democratização do país supõe a democratização da comunicação. Estruturas públicas democráticas de comunicação são fundamentais para superar o monopólio privado.¿

¿Por se tratar de um tema nacional, é importante realizar uma conferência nacional de comunicação, que reúna todos os segmentos envolvidos.¿

¿Trata-se de um tema urgente, envolvendo no curto e médio prazo as seguintes ações: a) a construção de um sistema público de rádio e TV; b) a importância de uma mídia privada progressista; c) a qualificação de nossa produção de conteúdos; d) mudanças no marco institucional da comunicação para as organizações sociais.¿