Título: PFL muda, de olho em eleição 2008
Autor: Marchi, Carlos
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/02/2007, Nacional, p. A5

Por trás dos argumentos republicanos que animaram o PFL a promover a própria ¿refundação¿ - com direito a troca de nome, estatuto, programa e imagem - estão razões bem mais pragmáticas. O novo Partido Democrata pretende passar o chapéu das filiações partidárias para atrair insatisfeitos de outras legendas e trocar direções estaduais e municipais que não agradem às cúpulas. Tudo deve estar pronto até setembro deste ano, a tempo de garantir que os novos filiados estejam aptos a concorrerem nas eleições municipais de 2008.

O nome Partido Democrata ganhou de Partido da Modernização Democrática. A idéia agora é surfar na onda das eleições dos Estados Unidos, no ano que vem, quando a citação continuada na imprensa do Partido Democrata de lá - bem mais simpático aos brasileiros do que seu rival, o Partido Republicano - ajudará a popularizar a nova sigla aqui e criar empatia com ela. Pesquisas conduzidas pelo cientista político Antônio Lavareda mostraram que o significado da sigla PFL é conhecido por apenas 23% do eleitorado, enquanto 61% sabem explicar o que significa PT.

A mudança de imagem pretende eliminar o último vínculo do partido com a ditadura, ainda lembrado por muitos eleitores brasileiros, como mostraram as pesquisas. Muitos eleitores ainda lembram que o PFL nasceu de uma costela do PDS, então partido do regime militar, justamente para acolher políticos que tinham apoiado a ditadura, mas se engajaram na cruzada cívica da redemocratização. Essa lembrança é um desconforto para as novas lideranças que adiante conduzirão o novo partido.

¿É a evolução natural de um partido que nasceu da dissidência de um partido conservador, mas depois evoluiu¿, explica o governador José Roberto Arruda (DF), uma das lideranças que pressionaram pela ¿refundação¿, ávidas por um partido mais livre de estigmas. ¿A classe média não dialogava com o PFL¿, registra o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (BA), outra liderança emergente. ¿Abrimos uma porta com segmentos da sociedade que nos viam com preconceito¿, arremata.

¿O PFL vai perder dois estigmas - o de partido do Nordeste e o de partido de direita¿, avalia o diretor-executivo da legenda, o ex-deputado Saulo Queiroz (MS). O prefeito do Rio, Cesar Maia, discorda: ¿Essa pecha de direita só existe em alguns segmentos sem expressão. Junto ao eleitor é irrelevante. Veja o caso do Rio, que tem o maior eleitorado tradicionalmente à esquerda, onde o PFL venceu todos nos últimos 15 anos.¿

O novo partido vai exercitar, no discurso ao eleitorado, uma profunda crença nas teses liberais. ¿Vamos ser radicalmente democratas, para marcar a nossa discordância com o populismo autoritário que invadiu a América Latina¿, diz o deputado José Carlos Aleluia (BA).

¿Nós carregamos um fardo, a forma como foi estigmatizado o pensamento liberal no Brasil. Agora seremos muito mais claros para expor nossas posições¿, observa o líder do partido na Câmara, Onyx Lorenzoni (RS). Onyx pretende que o PD se consolide como um partido de centro reformista. ¿Vamos apresentar um projeto de país diferente do populismo autoritário¿, afirma o líder, reforçando as palavras de Aleluia. Ele lembra que o PFL é filiado à Internacional da Democracia de Centro e o PD manterá essa filiação. A primeira tese ampla que o partido pretende defender será o fim da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). ¿O governo precisa arrecadar menos para aprender a gastar menos¿, argumenta ACM Neto.

Nem bem trocou de nome e o partido já foi alvo de ironia por parte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. ¿Eu li que o PFL vai se chamar Partido Democrata. Estou quase deixando de ser democrata por causa do PFL¿, disse Lula na sexta-feira, no jantar de aniversário do PT. ¿Não sou mais democrata-socialista. Mas como sou um socialista democrático, vou continuar sendo democrático, pois não acredito que o PFL seja democrático.¿ Lula - que estava ao lado do governador Jaques Wagner (BA), que quebrou a hegemonia de 16 anos do grupo de ACM no governo baiano - arrancou aplausos dos 500 petistas presentes.

A mudança que ¿refunda¿ o antigo PFL tem um ingrediente geracional, mas também se destina a responder a esse tipo de provocação nas urnas. Com o novo formato, o partido pretende deixar para trás os desconfortáveis resultados declinantes que colheu nas últimas 11 eleições - tantos nas disputas para o Legislativo quanto para o Executivo.

As pesquisas apontaram o conjunto de atributos que deveria orientar o rumo do Partido Democrata: ética, foco no cidadão, modernidade, competência e engajamento democrático. E indicaram que os eleitores simpáticos ao PFL aprovariam a troca de nomes.