Título: Para Comitê, São Francisco está 'altamente impactado'
Autor: Formenti, Lígia
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/02/2007, Economia, p. B7

O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco é totalmente contrário à instalação de usinas de energia nuclear às margens do rio. Essa possibilidade consta do plano elaborado pela Comissão Nacional de Energia Nuclear, conforme informou o Estado em sua edição de ontem.

Apesar de não se dizer contrário a esse tipo de energia, o secretário-executivo do comitê, Anivaldo Miranda, afirma que o Rio São Francisco não tem espaço para as usinas. ¿O sistema ambiental do rio já está altamente impactado e o governo ainda quer construir mais três barragens. Já se abandonou o projeto de revitalização do rio e agora volta essa idéia das usinas¿, critica.

Miranda conta que, no ano passado, o comitê chegou a ser informado da possibilidade de que duas usinas nucleares fossem construídas na região, o que logo depois teria sido desmentido. ¿Agora já se fala em três. Acredito que o mal do governo é a imposição de megassoluções que não são confrontadas com a opinião pública.¿

Miranda ressalta que o comitê não tem nada especificamente contra a energia nuclear, ¿mas nos preocupa a seriedade dos projetos, porque nesse tipo de usina não se pode ter nenhum risco de acidente, e o impacto na região¿. Segundo ele, ¿escolher o São Francisco para isso é absurdo.¿

Para o secretário do comitê , sempre que se trata do São Francisco, o governo se contradiz. Um dos argumentos para a transposição seria o de que não afetaria a produção de energia elétrica na região. Agora, no caso das usinas, uma das justificativas é de que a região precisa de mais energia.

O ex-ministro do Meio Ambiente do governo Fernando Henrique Cardoso e hoje deputado federal Sarney Filho (PV-MA) também é contrário à proposta de novas usinas nucleares, mas não por ser às margens do São Francisco.

Para ele, a localização das obras é irrelevante. ¿Em qualquer lugar os riscos são inúmeros¿, afirma.

O deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA), que já foi presidente da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), não vê mal algum em construir uma central nuclear naquela região. ¿Não há nenhum problema, desde que seja utilizada tecnologia mais avançada¿, comenta.

¿O Nordeste, em questão de energia, só tem um caminho: diversificar¿, afirma Aleluia. Ele acha que, além da energia nuclear, devem ser exploradas outras formas de geração, como as pequenas usinas hidrelétricas, a biomassa e a energia eólica.