Título: Maior ala do PT faz autocrítica, mas não se une
Autor: Oliveira, Clarissa
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2007, Nacional, p. A10
O Campo Majoritário do PT, corrente que deu as cartas no partido ao longo da última década, chega ao 27º aniversário do partido com dificuldades de obter até mesmo o apoio de alguns de seus próprios integrantes. Ciente de que seria alvo de críticas durante na reunião do Diretório Nacional marcada para hoje, em Salvador, a tendência preparou um manifesto no qual assume erros do passado, defende ideais como ética e combate à corrupção e prega a necessidade de assegurar a ¿qualidade da democracia interna¿. No entanto, o grupo Novo Rumo, que integra a corrente, se recusou a assinar o texto.
Representado por diversos petistas ligados à ex-prefeita Marta Suplicy, o grupo é autor da polêmica proposta de permitir que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva possa convocar plebiscitos sem aval do Legislativo. ¿Nós queríamos colocar outras idéias¿, disse o deputado Cândido Vaccarezza, admitindo que ¿há divergências reais em questão¿.
O vereador João Antônio, um dos representantes do grupo em São Paulo, avalia que o acirramento das disputas internas no PT foi fundamental para explicar a decisão de lançar um conjunto independente de teses. ¿Não é nem tanto uma questão de grandes discordâncias. Mas decidimos que não queremos mais essa história de nós contra o resto. Achamos que este é o momento de abrir as discussões e não de fechá-las.¿
O texto do Campo Majoritário, intitulado PT: Construindo um Novo Brasil, aborda superficialmente as disputas internas do PT, em um trecho no qual afirma que o partido tem passado por ¿uma dupla alienação¿. ¿Em muitos casos, as estruturas de direção têm sido apenas homologatórias de decisões tomadas por grupos paralelos a elas ou por mandatos. O esforço pela superação desse quadro não pode ser de uma ou outra tendência, mas de todo o partido, de maneira a criar vacinas contra práticas autoritárias e aparelhistas¿, diz o documento.
À ESQUERDA
O texto também apóia a política econômica e insiste em destacar que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ¿é um governo de esquerda¿. Além disso, trata da disputa por cargos no novo governo, alegando que o PT deve exercer o ¿papel protagonista que soube conquistar ao longo dos anos, não pela preocupação de espaços e cargos, mas pela construção de uma direção política¿. ¿Um exemplo disso é a coalizão no governo, que não pode ser restrita à soma de partidos, mas alicerçada no programa de governo, cuja defesa deve ser assumida incansavelmente pelo PT.¿
O texto faz ainda uma autocrítica sobre a crise política eclodida com o escândalo do mensalão. O PT, segundo o manifesto, errou ao ¿conferir certa exclusividade¿ a tarefas governamentais, sem que fossem combinadas com tarefas de organização do movimento social. Errou também ao ¿financiar campanhas de aliados e terceirizar finanças do partido¿ sem o ¿devido debate interno¿.