Título: Resolução petista reforçará ataque a Meirelles
Autor: Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2007, Nacional, p. A11

O Diretório Nacional do PT vai aprovar hoje resolução com duras críticas à política monetária conduzida pelo Banco Central. Emissários do presidente Lula tentaram ontem suavizar os termos do documento, mas não conseguiram: o texto engrossa o fogo amigo contra o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Mesmo sem citar Meirelles, a resolução petista do encontro de Salvador vai destacar que a equipe econômica precisa estar alinhada com os objetivos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Nada poderia ser mais direto contra Meirelles, uma vez que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, está de acordo com o PT. Na avaliação da cúpula petista, o BC tem criado obstáculos ao crescimento ao diminuir o ritmo de queda da taxa de juros. Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), há 15 dias, os juros caíram apenas 0,25 ponto porcentual, quando a redução esperada era de 0,50.

¿Consideramos a última decisão do Copom desalinhada com as possibilidades da nossa economia¿, afirmou o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP). ¿A inflação está sob controle, o risco país, baixo e não há crise cambial nem fiscal. O País, portanto, tem condições para diminuir os juros de forma mais acelerada.¿ Embora Berzoini insista em que ninguém está ¿fulanizando¿ o debate, se dependesse de fatia expressiva do PT, Meirelles sairia da equipe na reforma ministerial que Lula promoverá depois do carnaval. O presidente, porém, tem ignorado as pressões do partido. ¿Quem disse que Meirelles está isolado?¿, amenizou o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, um dos expoentes do grupo ¿desenvolvimentista¿ do governo. ¿Ao contrário, ele continua prestigiado. Aliás, todos os partidos devem discutir política econômica e monetária. Não há nenhum problema nisso.¿

Contrário ao bombardeio sobre o BC, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse que a política econômica não pode ser apenas aquilo que o PT, o Movimento dos Sem-Terra (MST), a Central Única dos Trabalhadores (CUT) ou outras entidades desejam. ¿É claro que todos podem criticar e apontar problemas, mas os rumos da economia são resultado de avaliações técnicas, que têm respaldo de Lula. E, como o próprio presidente diz, em time que está ganhando não se mexe.¿

Anfitrião do encontro, o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), também tentou conter os ânimos mais exaltados. ¿Eu vi muita ousadia do presidente no lançamento do PAC e acho que devemos concentrar nossas energias na sua defesa, e não nas críticas ao Banco Central.¿

Fortalecido com a eleição de Arlindo Chinaglia (SP) para a presidência da Câmara, o PT adotará tom triunfalista na resolução. Sublinhará, ainda, que a recondução de Renan Calheiros (PMDB-AL) para o comando do Senado foi importante para consolidar a base de apoio do governo no Congresso. Ao afagarem o PMDB, os petistas querem afastar comentários de que se movimentam apenas para defender seu espaço na Esplanada dos Ministérios.