Título: Protesto deixa 36 feridos em Jerusalém
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2007, Internacional, p. A15

Furiosos com os trabalhos de escavação realizados por ordem do governo de Israel no complexo sagrado conhecido como Esplanada das Mesquitas, cerca de 3 mil manifestantes palestinos entraram ontem em confronto com a polícia israelense em Jerusalém, num episódio que deixou 36 feridos.

Os choques tiveram início depois de uma cerimônia religiosa, quando muçulmanos que estavam no complexo começaram a atirar pedras e garrafas nos policiais do lado de fora. As forças de segurança israelenses entraram na Esplanada e tentaram dispersar os manifestantes - muitos deles idosos - com bombas de gás lacrimogêneo, causando a revolta dos jovens palestinos que estavam do lado de fora (só pessoas de mais de 45 anos estavam autorizadas a entrar).

Segundo a polícia israelense, os manifestantes lançaram coquetéis molotov contra seus agentes e logo o conflito tomou parte de Jerusalém Oriental. As tensões atingiram seu ápice quando cerca de 150 pessoas tomaram a Mesquita de Al-Aqsa - e só deixaram o local depois de mais de uma hora de negociações com os israelenses. No total, 19 policiais e 17 manifestantes ficaram feridos e outras 17 pessoas foram presas.

Outros protestos contra as obras foram organizados em países muçulmanos, como Egito, Líbano e Jordânia (leia ao lado) e os confrontos se espalharam para outras regiões de Israel. Na cidade de Nazaré, de população majoritariamente árabe-israelense, 10 mil pessoas se reuniram a pedido do líder do Movimento Islâmico em Israel, Raed Salah.

A Esplanada das Mesquitas, conhecida pelos judeus como Monte do Templo, abriga a Mesquita de Al-Aqsa e o santuário Domo da Rocha. É o terceiro lugar mais sagrado para os muçulmanos, depois de Meca e Medina, na Arábia Saudita.

A segunda intifada (levante palestino contra os israelenses, na qual morreram mais de 4.000 pessoas) começou em 2000, depois que o então deputado conservador Ariel Sharon visitou o local, que também é sagrado para os judeus, por supostamente ter sido construído sob seus templos bíblicos.

O governo israelense alega que as escavações são parte de uma obra para reformar a passarela que liga a Esplanada das Mesquitas à parte sul do Muro das Lamentações e teria sido danificada durante uma tempestade de neve em 2004. Os muçulmanos acusam os israelenses de querer destruir a mesquita e colocar sua estrutura em risco propositadamente. Ao longo da semana, as obras provocaram protestos e ameaças de governos de todo o mundo islâmico, o que fez com que Israel decidisse dobrar o número de policiais em Jerusalém Oriental e controlar a entrada de muçulmanos no complexo.

O presidente palestino Mahmud Abbas, classificou as obras de ¿medidas hostis¿ ontem e disse que ¿só resta à população palestina opor-se a elas¿. O receio é que a polêmica a respeito das reformas no local sagrado aumente as tensões entre palestinos e israelenses, inviabilizando definitivamente a retomada das negociações de paz.