Título: Câmbio esquenta reunião do G-7
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Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2007, Economia, p. B14

O primeiro dia da reunião de ministros das Finanças e dirigentes de bancos centrais do G-7, o grupo dos países mais industrializados do mundo, em Essen, na Alemanha, foi dominado por discussões sobre o valor do yuan e do iene. O Japão e, principalmente, a China têm sido pressionados a valorizar as suas moedas.

Antes de viajar para a Alemanha, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Paulson, reiterou que a baixa cotação do yuan é uma grande preocupação. De seu lado, autoridades européias têm se queixado da fraqueza do iene.

Pouco antes do início oficial do encontro, autoridades chinesas e alemãs conversaram sobre o tema. O conteúdo do diálogo entre os ministros das Finanças da Alemanha, Peer Steinbrueck, e da China, Jin Renqing, não foi divulgado. ¿Discutimos assuntos cambiais em linhas gerais¿, limitou-se a dizer Steinbrueck.

Ontem, nos Estados Unidos, quatro deputados do Partido Democrata enviaram uma carta a Paulson em que afirmam que o valor do iene não está sendo definido da maneira correta pelo mercado. ¿Acreditamos que um iene fraco é reflexo da política do governo japonês¿, escreveram. ¿Pedimos que o senhor (referindo-se a Paulson) pressione o governo japonês para que reverta sua política com ações concretas.¿

Em resposta, Paulson disse acreditar que o valor do iene reflete as condições econômicas no Japão. Ele repetiu a avaliação de que a cotação do iene simplesmente reflete as baixas taxas de juro e o frágil estado da recuperação econômica japonesa. ¿O iene é determinado pelo mercado¿, disse. ¿Aquele é um mercado muito amplo, líquido, que oscila baseado nos fundamentos do país.¿

Sobre o yuan, ele disse que EUA e China, no geral, concordam sobre as medidas que Pequim precisa adotar para reformar seu sistema financeiro, incluindo a flexibilidade cambial. Eles diferem apenas no ritmo.

De seu lado, o ministro das Finanças do Japão, Koji Omi, afirmou, antes do início do encontro, que as moedas devem refletir os fundamentos econômicos, em uma velada resposta à Europa.

A moeda japonesa está operando em níveis recordes de baixa ante o euro e está perto do menor nível em 20 anos ante o dólar. Alguns rumores dão conta de que o o G-7 incluirá em seu comunicado final uma menção explícita sobre a questão.

O presidente do Banco Central da China, Zhou Xiaochuan, disse que o recente aumento da flexibilidade do yuan é apropriado. ¿À medida que cresce a capacidade da economia da China de absorver tal mudança, uma taxa de câmbio mais flexível e elástica é apropriada¿, disse.

EMERGENTES

A Alemanha, que detém a presidência temporária do G-7, defendeu ontem que países emergentes também passem a fazer parte do grupo. Além disso, o país pediu que a Rússia se converta em membro pleno (status mais elevado do que o atual).

¿O G-7 entrou em um processo de ampliação¿, disse Steinbrueck. ¿Ainda não há nada formal a respeito, é apenas meu prognóstico pessoal¿, observou. Para ele, algumas nações emergentes estão assumindo um papel de protagonismo econômico e, por isso, ¿têm de estar à mesa¿.

A reunião de Essen conta com a participação de representantes de países emergentes, como Brasil, México, China, Índia e África do Sul. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, está entre os participantes.

Representantes dos emergentes protagonizarão uma mesa de trabalho cujo objetivo é analisar possibilidades de promover o desenvolvimento dos mercados de bônus nas moedas nacionais desses países. A idéia é que as nações emergentes que tenham grandes reservas internacionais possam emitir títulos em suas próprias moedas para que sejam menos vulneráveis a choques financeiros.

Como tem ocorrido em encontros dessa natureza, manifestantes protestaram contra a pobreza e a falta de apoio aos portadores de aids que vivem na África.