Título: Plano de ataque a Irã está avançado
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Fonte: O Estado de São Paulo, 11/02/2007, Internacional, p. A16
A preparação americana para um ataque aéreo contra o Irã está em estágio avançado, apesar dos repetidos desmentidos públicos da administração do presidente George W. Bush, segundo fontes consultadas pelo Guardian em Washington. A atual escalada militar no Golfo Pérsico permitiria aos EUA lançarem um ataque já na primavera no Hemisfério Norte (entre março a junho). Mas as fontes acrescentam que, se houver um ataque, ele ocorreria mais provavelmente no próximo ano, antes de Bush deixar o cargo.
Neoconservadores, particularmente do American Enterprise Institute (AEI), com sede em Washington, estão insistindo com Bush para abrir um novo front contra o Irã. O mesmo está fazendo o vice-presidente Dick Cheney.
O Departamento de Estado e o Pentágono se opõem, assim como os congressistas democratas e a maioria esmagadora dos republicanos. As fontes disseram que Bush ainda não tomou uma decisão. A Casa Branca insiste em afirmar que a mobilização de forças no Golfo não é ofensiva, mas ela tem o objetivo de conter o Irã e obrigá-lo a fazer concessões diplomáticas. A meta é persuadir Teerã a reduzir seu programa nuclear.
Robert Gates, o secretário de Defesa americano, disse na sexta-feira: 'Não sei quantas vezes o presidente, a secretária (de Estado Condoleezza) Rice e eu temos de repetir que não temos intenção de atacar o Irã.' Mas Vincent Cannistraro, analista de inteligência em Washington, compartilhou a avaliação das fontes de que o planejamento do Pentágono está bastante avançado. 'O plano está traçado, apesar dos desmentidos de Gates. Os alvos foram escolhidos. Para uma campanha de bombardeio contra locais nucleares, ele está bastante avançado. Os meios militares para realizá-los estão em fase final de preparação.¿ E acrescentou: ¿Estamos planejando para a guerra.'
Cannistraro, que trabalhou para a CIA e para o Conselho Nacional de Segurança, enfatizou que nenhuma decisão foi tomada. No mês passado, Bush ordenou o envio de um segundo grupo de batalha liderado pelo porta-aviões John Stennis para o Golfo em apoio ao Eisenhower. O Stennis deve chegar nos próximos dez dias. Mísseis Patriot extras foram enviados à região, assim como mais caça-minas, antecipando-se a uma ação iraniana de retaliação. Em outro sinal de que está se preparando, Bush pediu que as reservas de petróleo ficassem estocadas. Por seu lado, altos representantes iranianos disseram na quinta-feira que o país testou mísseis capazes de atingir navios de guerra no Golfo.
O coronel Sam Gardiner, ex-oficial da Força Aérea que levou a cabo manobras militares com o Irã como alvo, apoiou a visão de que o plano de um ataque aéreo está avançado. 'Gates disse que não há nenhum plano de guerra. Sabemos que não é verdade. Ele provavelmente quis dizer que não há plano para um ataque imediato', disse.
'Todas as decisões tomadas nas últimas semanas são consistentes com o que você faria se fosse realizar um ataque aéreo. Temos que acabar com a idéia de que os EUA não têm capacidade para fazê-lo por estar muito envolvido no Iraque. É uma operação aérea' Uma das principais forças por trás da guerra, além do gabinete do vice-presidente, é o AEI (American Enterprise Institute), quartel-general dos 'neocons'. A sua influência na Casa Branca parece ter diminuído no último ano, em meio ao caos da guerra no Iraque, apoiada pelo instituto. Mas, em janeiro, Bush adotou um plano do AEI para enviar mais tropas para o Iraque.
TROCA DE COMANDO
O general David Petraeus assumiu ontem formalmente o comando das operações militares americanas no Iraque, em substituição ao general George Casey. Em seu discurso, o general Petraeus disse que a situação no país é difícil, 'mas não desesperadora'.