Título: Um país arrasado por lutas e intervenções
Autor: Mafra, Claudio
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/02/2007, Internacional, p. A18

O Afeganistão é um país atormentado pelas lutas entre suas diversas etnias. Mas sua história nos últimos anos está mais relacionada com intervenções externas. Em abril de 1978, com o apoio dos russos, o Partido Comunista afegão deu um golpe de Estado. Assumiu um governo que, além das brutalidades praticadas em nome de reformas estruturais, ultrajou a população ao oferecer orações públicas para as almas de Marx e Lenin.

Em dezembro de 1979, a União Soviética invadiu o país para sustentar o governo títere. O que parecia facil se mostrou dificílimo. A guerra santa foi declarada e muçulmanos de todo o mundo dirigiram-se ao país para expulsar os invasores. Ao mesmo tempo, os paquistaneses, com ajuda da CIA, armavam os afegãos. Foram necessários dez anos para que os russos reconhecessem a derrota humilhante e se retirassem. A invasão deixou 1 milhão de afegãos mortos e 7 milhões de refugiados. O governo títere ainda durou três anos até a renúncia do presidente, em 1992. A partir dessa data, houve um período de guerra civil com a participação discreta de americanos, paquistaneses, iranianos e sauditas. Então, em 1996, chegaram os taleban e desarmaram as facções em luta. O antigo presidente comunista, Najibullah, foi arrancado de seu refúgio nas dependências da ONU, castrado, arrastado por um jipe pela cidade, baleado na cabeça e dependurado pelo pescoço em praça pública. A primeira ordem dada pelo rádio foi a de que os homens não poderiam mais raspar a barba e teriam de ir à mesquita, ou orar cinco vezes por dia. Ao povo foi imposto um fanatismo religioso que espantou o mundo, ao mesmo tempo em que o regime acolhia terroristas , entre eles Osama bin Laden. Em 2001, o Afeganistão foi invadido pelos EUA e aliados que depuseram o governo do Taleban. Hamid Karzai foi eleito presidente. Hoje, existem no Afeganistão tropas de vários países sob o comando da Otan, além de forças dos EUA. E os taleban continuam resistindo nas montanhas.