Título: Decisão sobre Angra 3 não tem prazo
Autor: Goy, Leonardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/02/2007, Economia, p. B5

A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse ontem que o governo pretende definir ¿o mais rápido possível¿ se retoma ou não a construção da usina nuclear Angra 3, no Rio de Janeiro. Para que a obra seja iniciada, é necessário o aval do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), órgão interministerial de aconselhamento da Presidência da República.

Dilma disse, que a discussão sobre Angra 3 ¿ainda não está madura¿. ¿Estamos em um processo de discussão interna¿, disse. A próxima reunião do CNPE deve acontecer em março, mas Dilma não tem certeza se Angra 3 estará na pauta.

O Estado informou no domingo que existe um plano da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) para construir seis usinas até 2030, de modo que a energia nuclear passe a representar 5% de toda a energia produzida no País. Já a estatal Eletronuclear informou ontem que o Plano Nacional de Energia 2030, elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), do Ministério das Minas e Energia, indica três cenários para expansão da energia nuclear, com a construção de até oito usinas.

A retomada de Angra 3, que teria capacidade para gerar 1,3 mil megawatts (MW), seria o primeiro passo para o plano da CNEN ser colocado em prática. A usina é remanescente de um pacote negociado na década de 70 com a Alemanha, que não foi totalmente implementado.

No atual governo, a retomada das obras já dividiu as opiniões. Dilma, quando ocupava a pasta de Minas e Energia, se posicionou contra a proposta, por considerar que os custos de produção seriam altos. Seu antecessor na Casa Civil, José Dirceu, defendia a construção de Angra 3 por razões estratégicas. O aumento dos custos da energia e a possibilidade de um novo apagão teriam levado a ministra a mudar de opinião.

O Ministério do Meio Ambiente, que integra o CNPE, com mais sete ministérios, é tido como principal foco de resistência à usina. Mas, técnicos do setor avaliam que, depois da divulgação de um estudo da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o aquecimento global, a tecnologia nuclear ganha espaço ante alternativas como o petróleo e o carvão.

O Greenpeace avalia que a opção pela expansão do uso de energia nuclear é ¿burra¿. Para o coordenador de Campanha da entidade, Marcelo Furtado, não faz sentido o Brasil investir nesse tipo de energia, já que conta com ¿potencial energético de fonte renováveis¿. As alternativas de geração, disse, seriam pequenas centrais hidrelétricas, biomassa, eólica e até solar.

¿Há outros recursos com preços competitivos ou até mais baratos que a energia nuclear, não geram tantos problemas e são muito mais estratégicos para o Brasil¿, afirma.

Segundo Furtado, o que não está sendo dito é que o interesse do governo em concluir a usina de Angra 3 é ¿permitir um programa brasileiro nuclear, com o domínio do ciclo completo do urânio¿. ¿Estão usando maquiagem verde para tentar viabilizar uma energia mais cara, perigosa e desnecessária¿, afirma.