Título: Coréia do Norte aceita desarmar-se
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Fonte: O Estado de São Paulo, 14/02/2007, Internacional, p. A11

A Coréia do Norte concordou ontem, após árduas conversações, em desligar seu principal reator nuclear e eventualmente desmantelar seu programa de armas nucleares em troca de US$ 300 milhões em ajuda, quatro meses após o Estado comunista ter chocado o mundo ao testar uma bomba nuclear.

O presidente americano, George W. Bush, disse que as conversações representam ¿a melhor oportunidade para usar a diplomacia para lidar com os programas nucleares da Coréia do Norte¿. ¿Elas refletem o compromisso dos participantes com uma Península Coreana livre de armas nucleares¿, acrescentou. A Casa Branca advertiu que o acordo não remove a ameaça de sanções autorizadas pela ONU.

Sob o acordo, que foi alcançado durante conversações em Pequim pelas Coréias do Norte e do Sul, EUA, China, Rússia e Japão, o governo norte-coreano vai desligar o reator em Yongbyang, que é o centro de seu programa nuclear, e permitir inspeções internacionais nas instalações, que ficam a cerca de 100 quilômetros da capital, Pyongyang. O governo norte-coreano também discutirá sobre todos seus programas nucleares, incluindo a extração de plutônio de barras de combustível, que deverá ser abandonada.

Os EUA - que incluíram a Coréia do Norte no chamado ¿eixo do mal¿, com Irã e Iraque - também concordaram em resolver a questão do congelamento das contas bancárias da Coréia do Norte em um banco de Macau dentro de 30 dias, disse o negociador americano, Christopher Hill. Washington também iniciará, por meio de um forum bilateral, um processo para remover a Coréia do Norte de sua lista de Estados que patrocinam o terrorismo.

A Coréia do Norte foi incluída na lista depois que um agente norte-coreano admitiu o envolvimento de seu país na explosão de um avião comercial sul-coreano sobre o mar perto de Mianmá em 1987. As sanções americanas contra Pyongyang também começarão a ser levantadas e EUA e Coréia do Norte iniciarão a normalização de relações.

O acordo é fundamental para a Coréia do Norte, que vive uma drástica situação de penúria. O país enfrentou sucessivas secas e inundações que acabaram com as plantações e provocaram a fome entre a população. E o já isolado regime de Kim Jong-il atraiu sanções internacionais ao desafiar as pressões internacionais.

Sob o acordo, a Coréia do Norte precisa adotar, em 60 dias, os passos para desligar seu principal reator nuclear. Em troca, receberá 50 mil toneladas de combustível ou ajuda econômica de igual valor.

Pyongyang receberá outras 950 mil toneladas de combustível quando der outros passos para desmantelar sua capacidade nuclear, além de fornecer um inventário de seu plutônio - o combustível usado pelo país na bomba que testou em outubro. Esse 1 milhão de tonelada de óleo combustível - usado em estações de energia e navios - está avaliado em US$ 300 milhões.

O projeto de acordo - apresentado pela China - contém passos para a aplicação do pacto acertado nas conversações de setembro de 2005, nas quais Pyongyang aceitara abandonar seu programa nuclear em troca de ajuda e garantias de segurança.

O acordo foi abandonado após os EUA congelarem as contas norte-coreanas em Macau. O Japão disse que não participará do fornecimento de combustível à Coréia do Norte até que a questão dos japoneses seqüestrados décadas atrás por agentes norte-coreanos seja resolvida.

PONTOS DO ACORDO

Reator: Pyongyang deve fechar reator de Yongbyon para receber 50 mil toneladas de combustível ou ajuda econômica equivalente

Lista: Pyongyang deve fornecer lista completa de seus programas nucleares e desativar instalações para receber 950 mil toneladas de petróleo ou ajuda equivalente

Sanções: Washington pode levantar sanções financeiras e retirar Pyongyang da lista de Estados que apóiam o terrorismo, se país desativar Yongbyon

Diplomacia: EUA e Japão devem manter negociações bilaterais com Pyongyang para normalizar relações diplomáticas