Título: PT deve indicar Marta para Educação
Autor: Rosa, Vera e Rila, Luiz
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/02/2007, Nacional, p. A5

O PT deve indicar formalmente a ex-prefeita Marta Suplicy para o Ministério da Educação. Em reunião da comissão política do partido, marcada para hoje, os dirigentes petistas farão a 'triagem' das demandas de diversas alas por cargos. Representantes das principais facções abrigadas na comissão pretendem endossar, ainda, outras substituições na seara do partido, como no Ministério do Desenvolvimento Agrário e na Secretaria de Direitos Humanos.

Embora pareça inclinado a nomear Marta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu ontem sinais contraditórios e mostrou disposição de resistir às pressões do PT para obter mais espaço no primeiro escalão com a reforma ministerial, que só deverá ser anunciada após o carnaval. 'Eles podem até querer, mas quem decide sou eu', disse Lula, à saída de almoço oferecido no Itamaraty ao presidente da Bolívia, Evo Morales, quando abordado por jornalistas que fizeram perguntas sobre o apetite do PT por cargos.

Lula repetiu não ter pressa de concluir as negociações para as mudanças na equipe. Mas uma troca é certa: a de Tarso Genro, ministro das Relações Institucionais, que ocupará a cadeira de Márcio Thomaz Bastos, na Justiça.

'Estou fazendo reflexões', afirmou o presidente. Na prática, apesar do interesse dos petistas, Marta ainda não recebeu convite de Lula. Se for mesmo para a Esplanada, ela desistirá de disputar novamente a Prefeitura de São Paulo, no ano que vem. Seus aliados avaliam que a troca é proveitosa porque, com o PT avariado pelas crises, Marta pode se tornar a candidata natural à sucessão de Lula, na eleição de 2010.

Foi o próprio presidente que pediu ao PT as indicações - não apenas para os ministérios, como para cargos nos Estados. Agora, a cúpula do partido pretende pressionar o Palácio do Planalto a delimitar o espaço da sigla no latifúndio ministerial: vai apresentar a lista de apadrinhados a Lula depois do carnaval. Além de 'rifarem' o petista Fernando Haddad, atual ministro da Educação, dirigentes do PT indicarão o deputado Walter Pinheiro (BA) para Desenvolvimento Agrário, no lugar de Guilherme Cassel - também filiado à legenda - e os ex-deputados Luiz Eduardo Greenhalgh e Renato Simões para a Secretaria de Direitos Humanos, em substituição a Paulo Vanucchi. Na maioria dos casos, as facções petistas apresentarão indicações duplas ou até triplas.

PARTILHA

Dos 34 ministérios, o PT ocupa 15 e admite a possibilidade de perder apenas um: o da Previdência. A pasta é controlada por Nélson Machado, considerado pelo governo um excelente técnico, assim como Haddad. Numa das últimas reuniões com petistas, porém, Lula avisou que provavelmente terá de ceder a Previdência para a negociação política. Na partilha do poder, o ministério poderá ir para o PDT e o nome mencionado pelo partido para ocupá-lo, hoje, é justamente o do presidente da sigla, Carlos Luppi.

Lula vive dias de agonia por causa da reforma. Motivo: apegou-se muito aos chamados 'ministros técnicos', como Haddad, Machado e Paulo Sérgio Passos, dos Transportes. 'Se eu pudesse e não houvesse cotas políticas, ficaria só com os técnicos', comentou o presidente, em mais de uma ocasião. 'Eles não dão trabalho, não atacam uns aos outros e o governo funciona.'

A mais de um interlocutor, Lula disse estar em dúvida sobre o que fazer com o time técnico. Em alguns casos, planeja aproveitar os colaboradores em outros escalões. Para ele, Passos - que era secretário-executivo dos Transportes - foi uma 'revelação'. Mas o PR (ex-PL) quer o retorno do ex-ministro Alfredo Nascimento (PR), eleito senador.

'Eu não sinto esse clima de disputa de espaço com nossos aliados', amenizou o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), ao negar as cotoveladas entre os partidos que compõem a coalizão. 'Como diz o presidente Lula, nunca, na história deste País, houve relação tão respeitosa entre nós.'