Título: Desarmamento é temporário, diz agência norte-coreana
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/02/2007, Internacional, p. A16

Em um sinal de potenciais problemas futuros, a agência de notícias estatal da Coréia do Norte disse ontem que o país estava recebendo 1 milhão de tonelada de combustível para ¿suspensão temporária¿ de suas instalações nucleares - e não mencionou o completo desarmamento que consta do acordo obtido na terça-feira entre as Coréias do Sul e do Norte, Japão, EUA, China e Rússia.

Não está claro se a notícia representa uma tentativa do governo norte-coreano de retroceder no acordo ou se foi simplesmente uma bravata dirigida a uma audiência doméstica, para quem o programa nuclear é motivo de orgulho nacional.

De qualquer forma, o acordo representa uma grande mudança de posição da Coréia do Norte, que chocou o mundo quatro meses atrás ao testar uma bomba nuclear. Se o governo norte-coreano cumprir suas promessas, serão os primeiros passos para a desnuclearização da Península Coreana desde que o Estado comunista expulsou os inspetores internacionais de suas instalações nucleares e religou seu reator em 2003.

Um especialista chinês em energia, que não quis ter seu nome revelado, advertiu ontem que a ajuda em combustível prometida para a Coréia do Norte poderia ser desviada para a vasta máquina militar do país. Segundo o acordo, a Coréia do Norte receberá 50 mil toneladas de óleo combustível ou ajuda econômica de igual valor para desligar seu principal reator em 60 dias. Outras 950 mil toneladas de óleo combustível serão entregues quando a Coréia do Norte der os passos necessários para desmantelar sua capacidade nuclear. Esse óleo combustível - do tipo pesado - geralmente é usado em usinas de energia e fábricas e não serve para aviões ou tanques. Mas poderia ser usado na ampliação da produção militar norte-coreana.

A Coréia do Norte tem o potencial de gerar 7.800 megawatts de energia, mas a falta de combustível reduziu a produção a apenas dois terços. No mês passado, as poucas lojas que estavam abertas em Pyongyang após o anoitecer usavam lampiões para atender seus clientes, enquanto grandes partes da capital permaneciam no escuro já que as luzes das ruas estavam apagadas. Atualmente, a Coréia do Norte tem petróleo para alimentar apenas uma refinaria. No ano passado, a China vendeu ao país vizinho 524 mil toneladas de petróleo e cerca de 120 mil toneladas de produtos refinados.

Ainda ontem, o governo norte-coreano se mostrou irritado com o fato de o Japão rejeitar participar da ajuda em combustível. O Japão condicionou qualquer ajuda à resolução da questão dos japoneses seqüestrados nos anos 70 e 80 por agentes norte-coreanos. A imprensa japonesa elogiou o acordo, mas advertiu que a Coréia do Norte continua representando uma ameaça para o Japão. Os jornais destacaram que nada ficou decidido sobre as outras possíveis armas nucleares que Pyongyang teria. O jornal Nikkei, falou sobre ¿cinco ou mais bombas atômicas de plutônio¿, que o Estado comunista poderia excluir da lista sobre seu arsenal nuclear. Também não foi dado nenhum prazo para a Coréia do Norte anunciar o desmantelamento de todo seu programa nuclear.

As Coréias do Norte e do Sul reiniciarão hoje conversações de alto nível na cidade norte-coreana de Kaesung para a normalização de relações. As discussões tinham sido interrompidas após a Coréia do Norte testar um míssil em julho.