Título: Bush reforça acusações a Teerã
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/02/2007, Internacional, p. A16

O presidente dos EUA, George W. Bush, disse ontem estar convencido de que integrantes da Guarda Revolucionária - um ramo das Forças Armadas do Irã e, portanto, ¿parte do governo de Teerã¿-, estão fornecendo armas para milícias no Iraque. ¿Sabemos que as Forças Quds (unidade de elite da Guarda Revolucionária) forneceram explosivos para as milícias - e sabemos que essas forças fazem parte do governo iraniano¿, afirmou Bush, numa entrevista coletiva na Casa Branca, na qual tratou de diversos temas da política externa.

O presidente fez a ressalva de que ¿não tem certeza¿ que os principais líderes do Irã estão por trás da ação, mas deu a entender que, para ele, Teerã seria ao menos conivente com ela. ¿Não sabemos se foram os mais altos escalões do governo iraniano que deram ordens para as Forças Quds - mas aí me pergunto o que será pior: se eles estiverem sabendo (da ação) ou não?¿, completou. A Guarda Revolucionária foi criada após a Revolução Islâmica de 1979 com o objetivo de exportar os seus ideais e está sob o comando do líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei.

As tensões entre Washington e Teerã, que já estavam elevadas por causa da recusa do governo iraniano em suspender seu programa nuclear, começaram a se intensificar em janeiro, com as acusações da Casa Branca de que o Irã estaria fomentando a violência sectária no Iraque. Cinco funcionários iranianos foram presos no norte do Iraque, em janeiro, quando os EUA também resolveram ampliar sua presença militar no Golfo Pérsico, em resposta à ¿atitude negativa¿ do Irã.

No domingo, integrantes do comando militar dos EUA apresentaram, sob a condição de não terem suas identidades reveladas, fotos e documentos que provariam que milícias xiitas no Iraque estariam usando armas potentes fabricadas no Irã. Mas, na terça-feira, o chefe das Forças Armadas dos EUA, general Peter Pace, disse que a partir dessas evidências não era possível concluir que ¿pessoas dos níveis mais altos do governo iraniano¿ tinham ordenado a interferência no Iraque.

Durante a entrevista, Bush também pediu ao Congresso dos EUA que aprove os fundos necessários para a Casa Branca prosseguir com o plano de enviar mais 21.500 soldados para o Iraque. A Câmara dos Representantes, sob o controle da oposição democrata, deve votar até o fim de semana uma resolução não vinculante (de cumprimento não obrigatório) contra essa ampliação das tropas e o presidente expressou sua preocupação em relação à possibilidade de os congressistas tentarem impor a obrigatoriedade do documento.

Bush defendeu sua nova estratégia para o Iraque, dizendo que uma saída dos EUA ¿criaria um vazio¿ aproveitado pelos terroristas. ¿Se falharmos no Iraque, nossos inimigos irão nos perseguir até aqui¿, afirmou o presidente.

Ao comentar a possibilidade de retomada das negociações sobre o programa nuclear iraniano, ele mostrou pouco entusiasmo: ¿Se soubesse que poderíamos ter sucesso, aceitaria sentar para negociar (com o Irã), mas não acho que teríamos êxito neste momento¿.

O presidente também falou sobre as negociações com a Coréia do Norte, que na véspera concordou em desligar seu principal reator nuclear em troca de ajuda econômica. ¿Ainda há muito trabalho a ser feito para garantir que os compromissos acordados se tornem realidade, mas esse foi um passo importante na direção certa¿, afirmou Bush, depois de elogiar as negociações multilaterais e lembrar que em 60 dias Pyongyang deve lacrar suas instalações nucleares.

RESPOSTA PARA PUTIN

O presidente dos EUA minimizou as duras críticas feitas à sua política externa pelo presidente russo, Vladimir Putin. ¿Há muitos pontos nos quais podemos trabalhar juntos¿, afirmou Bush. Putin disse no sábado que os EUA, na ânsia de se estabelecerem como única superpotência, desataram uma corrida armamentista que tornou o mundo mais perigoso.

Bush reconheceu que ele e o líder russo discordam sobre ¿a utilidade da Otan¿, a aliança que para Putin é ¿uma ameaça para a Rússia¿, mas assegurou que ambos podem cooperar em ¿temas vitais¿, incluindo o programa nuclear iraniano.

O QUE BUSH DISSE SOBRE...

Disputa com o Irã - ¿Todos dizem: `Reúnam-se!¿ ¿Se eu acreditasse que poderia obter algum resultado com isso, eu consideraria. Mas não creio que seja possível chegar a algo positivo agora. Queremos trabalhar com os outros países. Teremos mais possibilidades de atingir nossos objetivos quando os outros países estiverem também envolvidos.¿

Coréia do Norte - ¿É um bom primeiro passo. Um passo importante na direção correta. Mas ainda temos muito a trabalhar para que os compromissos do acordo se tornem realidade.¿

Rússia - ¿São relações complicadas. Relações nas quais há desacordo. Mas também são relações nas quais podemos encontrar pontos de entendimento para resolver os problemas. E é com esse objetivo que pretendo seguir trabalhando com (o presidente russo, Vladimir) Putin.¿

Iraque - ¿A operação para pacificar Bagdá vai levar tempo e haverá violência. A questão fundamental é saber se poderemos ajudar a este governo (iraquiano) a dispor de serviços de segurança suficientes para garantir que se ponha fim à limpeza étnica que tem-se registrado em alguns bairros.¿

Fornecimento de armas - ¿O que sabemos é que as Forças Quds (unidade militar de elite do Irã) desempenharam um papel de destaque no fornecimento de explosivos letais às redes rebeldes do Iraque. Sabemos também que as Forças Quds são parte do governo iraniano. O que não sabemos é se os dirigentes que estão à frente do Irã deram a ordem para que as Forças Quds fizessem o que fizeram.¿